“Ás favas os escrúpulos de consciência”
Essa frase foi pronunciada pelo então Ministro do Trabalho e da Previdência Social, Jarbas Passarinho, enodoando a sua biografia política, quando participava da reunião extraordinária do Conselho de Segurança Nacional, em 13 de dezembro de 1968, que decidiu a edição do AI-5. Foi quando a ditadura militar tirou a máscara, com apenas um voto contrário, o do vice-presidente, Pedro Aleixo. Uma tenebrosa noite que durou dez anos.
Estão querendo reviver uma história que precisa ser esquecida. Figuras proeminentes da política nacional contemporânea, não se importam em jogar às favas os escrúpulos de consciência, na intenção de atacar a democracia e enveredar pelo caminho que busca retornar a um passado em que imperava o autoritarismo. Aves de mau agouro sempre defendendo o regime de exceção que o Brasil experimentou naquela época.
A cultura da intolerância reacendendo, passando por cima dos direitos humanos e das garantias constitucionais. Principal ferramenta do terrorismo de estado, o AI-5, sendo reivindicado pelos que odeiam a democracia. Muitos desconhecendo que foi o momento mais traumático da geração que sobreviveu a esse apagão da democracia brasileira. Que o nosso país jamais precise fazer algo à custa dos escrúpulos de sua consciência.
Esse estado de hesitação da consciência, quanto à correção moral de uma ação, chamado de escrúpulo, tem que ser encarado com responsabilidade cívica, sem se deixar ser levado pelas tentações que fazem valer os interesses pessoais em detrimento do coletivo. A conduta escrupulosa leva em consideração a ética e a moral, formando integridade de caráter. Quem joga às favas os escrúpulos de consciência, revela-se um indivíduo vulnerável a atender as vontades dos aproveitadores de situações críticas, tentando justificar atitudes que se afirmam em quem não tem alma democrática.
Que os escrúpulos de consciência nunca mais sejam jogados às favas, concorrendo para a putrefação do nosso sistema político, em favor de minorias que teimam em forjar ordens ilegais, ferindo de morte uma democracia emancipadora.
Rui Leitão