Argentina vai abrir investigação “urgente” sobre escândalo de criptomoeda promovida por Milei
Economistas e oposição criticam lançamento de criptomoeda promovida por Javier Milei, sugerindo ser um golpe ou esquema de pirâmide
O governo argentino anunciou uma “investigação urgente” sobre o lançamento de uma criptomoeda promovida pelo presidente de extrema-direita Javier Milei na sexta-feira (14). O ativo, que inicialmente teve um aumento exponencial em seu valor, despencou poucas horas após uma publicação nas redes sociais do ultraliberal, gerando acusações de fraude e pedidos de um “julgamento político”. As informações são do jornal O Globo.
Imagens da imprensa local indicam que Milei postou uma mensagem no X, fixada em seu perfil por mais de cinco horas, com um link para uma iniciativa chamada “Projeto Viva La Libertad”, que evocava seu slogan “Viva a liberdade, caral**”. Na postagem, ele anunciou o nome do token, $LIBRA, uma unidade de valor digital baseada na tecnologia blockchain e sem lastro em dinheiro real. A mensagem, publicada na sexta-feira, afirmava: “O mundo quer investir na Argentina. $LIBRA”.
O projeto da criptomoeda foi descrito como “privado”, com o objetivo de “incentivar o crescimento da economia argentina, financiando pequenos negócios e startups”. Contudo, economistas, especialistas em criptomoedas e figuras da oposição rapidamente criticaram a iniciativa, sugerindo que o ativo poderia ser um golpe ou até um esquema de pirâmide.
Horas depois, Milei apagou a publicação e tentou se justificar no sábado, dizendo no X: “Eu não estava ciente dos detalhes do projeto e, depois de tomar conhecimento dele, decidi não continuar a divulgá-lo”. A justificativa, no entanto, não foi suficiente para aplacar as críticas. Na noite de sábado, a Presidência argentina anunciou que Milei havia decidido encaminhar a questão ao Escritório Anticorrupção (OA) para investigar possíveis condutas impróprias por parte do governo, inclusive do próprio presidente. Além disso, foi criada uma “Força-Tarefa Investigativa” para apurar o lançamento da criptomoeda $LIBRA e o envolvimento de empresas ou pessoas na operação.
A revista especializada em mercados financeiros The Kobeissi Letter revelou que quase 80% do ativo $LIBRA estava nas mãos de poucos detentores antes do apoio de Milei. Após o anúncio do presidente, o valor da criptomoeda disparou de frações de centavo para um pico de US$ 4,978, gerando milhões de dólares de lucro para os detentores originais, que começaram a vender a moeda antes de seu valor despencar.
Javier Smaldone, especialista em informática e influenciador digital dedicado a expor esquemas de pirâmide, explicou o que aconteceu: “O que aconteceu é o que no mundo dos títulos negociáveis é chamado de ‘tapete puxado'”. Ele detalhou como a promoção de Milei poderia ter desempenhado um papel na criação de um ativo que foi valorizado artificialmente para atrair compradores. “A liquidez inicial é dada, uma campanha publicitária é iniciada e, eventualmente, aqueles que administram a liquidez retiram o dinheiro, causando o colapso”, disse Smaldone.
Ainda conforme a reportagem, o volume de transações durante a operação chegou a aproximadamente US$ 4,4 bilhões, e Smaldone estimou que o valor fraudado seja superior a 107 milhões de dólares.
Em resposta, o bloco União pela Pátria, liderado pelo peronismo na Câmara dos Deputados, anunciou que apresentará um pedido de impeachment contra Milei na segunda-feira. A oposição também se manifestou, incluindo a ex-presidente Cristina Kirchner, que chamou o presidente de “golpista de criptomoedas” e afirmou que ele atuava “como um gancho para um golpe digital”.
Com Brasil 247