Aqui elas mandam! Em casa, Martine e Kahena conquistam o ouro na vela

Martine Grael e Kahena KunzeNão há nada como a casa da gente. Aquele lugar que você conhece cada cantinho, cada atalho, cada detalhe. Imagine então disputar uma edição dos Jogos Olímpicos no seu quintal? E ganhar a medalha de ouro no lugar que você ama? Foi isso que Martine Grael e Kahena Kunze conseguiram na tarde desta quinta-feira. Na Baía de Guanabara, onde começaram a velejar juntas, a dupla brasileira venceu a regata da medalha da classe 49erFX e se tornou campeã olímpica. Com a família e os amigos na areia, fizeram uma regata da medalha que beirou a perfeição: teve emoção, estratégia e ultrapassagem no final. Aos pés do Pão de Açúcar, as meninas de ouro do Brasil mostraram que ali quem manda são elas.

Em uma categoria marcada pelo equilíbrio, com quatro duplas chegando à decisão com chance de título, Martine e Kahena fizeram valer o fator casa. Depois de vencerem os dois eventos-teste que foram realizados na Baía, em 2014 e 2015, chegaram ao dia decisivo empatadas com os barcos da Dinamarca e Espanha. e um ponto à frente das neozelandesas. E a vitória do ouro, disputada na raia do Pão de Açúcar, veio por uma diferença de apenas dois segundos. Na classificação final, 48 pontos perdidos. A prata ficou com a dupla da Nova Zelândia, Alex Maloney e Molly Meech, que perderam 51 pontos, e o bronze para as dinamarquesas Jena Hansen e Katja Steen Salskov-Iversen, 54. Para celebrar? Mergulho coletivo nas águas criticadas e que geraram apreensão durante todo o ciclo olímpico. A família que estava na praia não se conteve e nadou em direção ao barco campeão. 

– Se a gente conhecesse tanto assim a Baía, teríamos vencido por antecipação (risos). Aqui é o nosso jardim, começamos a velejar aqui. Mas todos velejaram de igual para igual, nenhuma equipe sabia mais do que a outra. Talvez em algum momento houve alguma vantagem por causa do vento, mas nada decisivo. Ainda não caiu a ficha da medalha. Esperamos estimular outras meninas. Não só na vela, mas em outros esportes. Estou orgulhosa. Sempre sonhei estar na Olimpíada e representar nosso país. E fomos além – disse Martine.

A conquista garantiu ao Brasil uma sequência importante na vela: desde 1996 que o país conquista pelo menos uma medalha no esporte. Foi ainda um ouro de duas famílias muito ligadas às águas. Martine é filha de Torben Grael, bicampeão olímpico, dono de cinco medalhas – duas de ouro, uma de prata e duas de bronze – e coordenador técnico da equipe brasileira de vela. Somando os dois bronzes do tio Lars Grael, já são oito medalhas olímpicas em casa. Já o pai de Kahena é Cláudio Kunze, campeão mundial júnior da classe Pinguim.

– Aqui é uma caixinha de surpresas. Sempre pode ter uma coisa nova. Você não pode achar que sabe tudo. Quando saímos para a regata, nos abraçamos e falamos: vamos dar o nosso melhor. Chegar entre os quatro já seria um grande resultado. Incrível a força da família, da torcida, energizante – resumiu Kahena.

As brasileiras chegaram à última prova dividindo a primeira posição com as as espanholas Tamara Echegoyen e Berta Betanzos, e as dinamarquesas com 46 pontos perdidos. Nos critérios de desempate, apareciam na segunda colocação geral. Mas foi com a dupla da Nova Zelândia, quarta colocada com 47 pontos perdidos e última equipe na disputa pelo ouro, que elas travaram uma disputa acirrada pelo título de campeãs olímpicas.

Martine e Kahena fizeram uma boa largada. Passaram a primeira das cinco boias na terceira posição. O problema é que as neozelandesas estavam em segundo. Seria preciso fazer as escolhas certas, sem margens para erros. Era hora de lembrar quem estava competindo no quintal de casa. Com as espanholas fora da briga (foram mal na regata e terminaram em sétimo), a corrida do Brasil teve duas frentes: ao mesmo tempo que tentavam se livrar das dinamarquesas, as meninas travavam uma verdadeira caça à Maloney e Meech.

A partir da segunda boia, a diferença começou a cair: 21 segundos, 13 segundos, seis segundos. No último contorno, a ultrapassagem levantou o público que acompanhava a decisão na Praia do Flamengo. As brasileiras optaram por um lado da raia, as rivais pelo outro. A estratégia de Martine e Kahena foi perfeita e elas assumiram a liderança. E ao invés de voltarem pelo mesmo lado, resolveram ”marcar” a dupla adversária. O que se viu então foi um final emocionante. Quem vencesse, ficaria com o ouro. E deu Brasil, com apenas dois segundos de diferença. Foi só passar a linha de chegada para elas se jogarem na água para comemorar. Para ver a bandeira do Brasil tremular no lugar mais alto cerimônia de medalha, um outro pavilhão foi essencial. 

– Na penúltima perna foi bem decisivo, conseguimos cruzar na frente do barco da Nova Zelândia. Quando a gente resolveu cruzar à esquerda no segundo contravento, junto com a dinamarquesa, com muita pressão, a Nova Zelândia tinha pego a direita. Foi um momento de decisão muito difícil, foi a mais difícil da minha vida. Deu até um nervoso na última manobra. Achei que fosse errar. Aquela bandeira do Brasil do Forte (da Urca) ajudou bastante. Sempre que entrava rajada ele ficava PRÉÉÉ – disse Martine. 

GE

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