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Apreensão de macacos de Nicole Bahls deu início a investigações da PF contra tráfico ilegal de animais silvestres

PF prendeu três integrantes de quadrilha nesta terça-feira; entre os presos está um bombeiro militar, apontado como chefe do esquema

Os macacos-prego apreendidos na casa da influenciadora digital Nicole Bahls, em janeiro do ano passado, motivaram o início das investigações da Polícia Federal contra uma quadrilha que traficava animais silvestres no Rio. O grupo foi alvo de uma ação nesta terça-feira, que prendeu preventivamente três pessoas — entre eles um bombeiro militar, apontado como chefe da organização criminosa — e cumpriu 20 mandados de busca e apreensão.

A ação que apreendeu os macacos de Nicole foi deflagrada em Itaboraí, na Região Metropolitana do Rio, após a PF comprovar que os dois foram traficados e que a documentação dos bichos era falsa.

Na época, Nicole chegou a se pronunciar sobre a apreensão dos animais: “Ontem teve uma operação aqui em casa da Polícia Federal e do Ibama, para ver os documentos da Mikal e do Davi, e nós descobrimos que os documentos dos dois macaquinhos eram falsificados. E agora, o Ibama vai fazer um trabalho de reabilitação para eles voltaram para o habitat natural deles, para a natureza, e eu vou colaborar para que isso aconteça da melhor forma possível”, disse ela.

O EXTRA tentou contato com a assessoria de imprensa de Nicole Bahls, que até o momento não se manifestou.

Caça, venda ilegal e transporte cruel

Segundo a PF, o grupo alvo da ação é especializado na captura ilegal, receptação e tráfico de animais silvestres, inclusive de espécies em extinção. Segundo as investigações, o grupo falsificava documentos e selos públicos do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e do Instituto Estadual do Ambiente (Inea). A PF passou a investigar a quadrilha a partir da apreensão de macacos-prego que pertenciam à influenciadora digital Nicole Bahls. Ao todo, três mandados de prisão preventiva — entre eles, o de um bombeiro — e 20 de busca e apreensão foram expedidos pela Justiça. Os três alvos foram presos.

De acordo com a PF, o grupo era chefiado por um bombeiro militar, o sargento Fabiano Gouveia Monteiro, e composta por caçadores, receptadores, falsificadores e traficantes de animais silvestres. A quadrilha ainda contava com a participação de servidores do Inea e do Comando de Policiamento Ambiental (CPAm), além de uma universitária e dois médicos veterinários. Após a deflagração da operação, o respectivo conselho profissional de veterinária e as instituições serão devidamente notificadas para que adotem as providências cabíveis.

Dentre as falsificações de documentos, investigadores constataram que a quadrilha realizava o cadastramento fraudulento dos animais traficados no Sistema Nacional de Gestão da Fauna Silvestre, o SISFAUNA, e no Sistema de Controle e Monitoramento da Atividade de Criação Amadora de Pássaros, o SISPASS — ambos geridos pelo Ibama —, com o intuito de dificultar o controle e fiscalização dos órgãos ambientais.

Operação Defaunação tem um preso — Foto: Fabiano Rocha/Agência O Globo
Operação Defaunação tem um preso — Foto: Fabiano Rocha/Agência O Globo

Em nota, o Inea afirma que os alvos da operação desta terça-feira são ex-servidores que não trabalham no Instituto e que “não compactua com desvios de conduta e que preza pelas boas práticas na atuação dos seus servidores, sempre de forma ética e comprometida”. O órgão ainda diz que está “à disposição das autoridades para colaborar com as investigações” e que em caso de identificação de desvios de conduta, a corregedoria vai apurar “seguindo todos os trâmites necessários para aplicação de medidas disciplinares e criminais previstas na legislação”.

Animais eram vendidos pela internet

s animais capturados pela quadrilha, segundo a PF, eram vendidos pela internet, por valores que variam entre R$ 20 mil e R$ 120 mil, a depender da espécie e se viriam acompanhados ou não do “kit” de documentos falsos.

Até o momento, as investigações detectaram que pelo menos 120 macacos-prego — alguns ameaçados de extinção, como o macaco-prego-de-crista — foram traficados em apenas um ano. A organização criminosa também vendeu centenas de animais silvestres como araras, pássaros, cervos, iguanas e papagaios. O faturamento ilícito do grupo com o tráfico foi de, aproximadamente, R$ 2,4 milhões, podendo chegar a R$ 14, 4 milhões.

Durante a operação, as equipes apreenderam ao menos duas cobras na residência de um dos alvos da operação, no bairro de Itaipu, em Niterói.

Pônei encontrado por agentes

 

Durante o cumprimento de mandados de busca e apreensão, agentes da PF encontraram um pônei, sob péssimas condições. O animal estava preso em um trailer, em frente à casa do bombeiro militar, em Araçatiba, em Maricá, na Região Metropolitana. O bombeiro é considerado o principal alvo da ação.

No mesmo local, segundo a PF, dois cervos-dama foram apreendidos anteriormente. A espécie é originária de regiões da Europa, Mesopotâmia e norte da África.

Dois cervos-dama apreendidos pela PF em Itaipu, em Niterói — Foto: Divulgação
Dois cervos-dama apreendidos pela PF em Itaipu, em Niterói — Foto: Divulgação

Por meio de nota, o Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro disse que “repudia veementemente todas e quaisquer condutas ilícitas que transgridam os preceitos da ordem, da disciplina e da moral características da profissão de bombeiro militar”. A corporação afirma que “integra a operação e reforça que segue à disposição das autoridades para colaborar nas investigações”.

Na residência de um casal, que é alvo da operação, as equipes apreenderam sete armas e munições. O imóvel fica no bairro de Itaipuaçu, em Maricá. Contra a dupla havia mandado de prisão preventiva. O homem também foi preso em flagrante por posse ilegal de arma de fogo.

Os envolvidos responderão pelos crimes de organização criminosa, receptação qualificada, crime ambiental, peculato, falsificação de documentos e selos públicos, falsificação de documento particular, uso de documento falso e falsidade ideológica. Se somadas, as penas podem alcançar de 46 a 58 anos de reclusão.

Já os compradores poderão responder pelo crime de receptação, uma vez que estavam cientes da ilegalidade dos animais ao adquiri-los, com exceção dos que colaborarem com as investigações e entregaram os animais espontaneamente à Delegacia de Repressão a Crimes contra o Meio Ambiente (DMA/PF/RJ).

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