TOCA DO LEÃO

Anotações para a história do rádio em Itabaiana

A tecnologia de transmissão de som por ondas de rádio chegou a Itabaiana por volta de 1948. Decidiram batizar nossa primeira estação de rádio com o nome de Rádio Clube de Itabaiana, certamente inspirado na congênere pernambucana, única emissora que se podia sintonizar naquela época. O estúdio funcionava na Rua da Lama, centro da cidade.

Transcorria a era de ouro do rádio, com seus ídolos, seus programas de auditório e as radionovelas. Na pequena Itabaiana de então, notabilizaram-se os cantores e apresentadores. Fez época o programa “Surge um talento”, apresentado por Irapuan, tendo como locutor de resistência o Ismar, espécie de Lombardi do rádio itabaianense, anunciando os “reclames” comerciais nos intervalos do programa. Os astros cantores eram liderados pelo fiscal de menores Antonio Ananias, “o garganta de prata”, o “sabiá da mata” dos versos de Zé da Luz no poema “Boa noite Paraíba”.

A Rádio Clube de Itabaiana durou pouco, mas fez história. No palco do seu auditório apresentaram-se tanto orquestras como “Marimba Mexicana”, como o pastoril da famosa Rubina e seu palhaço bedegueba Pedro Cristóvão, igualmente lembrados pelo poeta Zé da Luz em suas reminiscências itabaianenses.

O escritor Erasmo Souto era adolescente e já impostava a voz de locutor, testando seu talento na porta das “Lojas Pernambucanas” e outras casas comerciais. Também foi locutor da Rádio Clube de Itabaiana. Hoje está radicado em Natal, bancário aposentado que nunca esqueceu sua vida de matuto em Itabaiana. Tanto que já escreveu vários livros contando com irreverência casos de figuras folclóricas, tipo “Lula de Nevinha”, “Ferro Velho”, “Tonico Lero-Lero”, “Mário da Gelada”, “Zé Bodinho”, Cabo Totô, Índio, Machinho, Mané Salu e tantos outros. O primeiro livro de Erasmo saiu em 1980: “Um paraíba falando para o mundo”. Depois publicou “Paraíba & Pernambuco – um casal muito maluco”.

Nesse último livro, Erasmo Souto conta o caso de Cardoso. Um dia disseram que ele cantava bem e o rapaz acreditou, passando a fazer parte de todos os programas de calouros da Rádio Clube de Itabaiana, para agonia dos músicos do conjunto “Os Vagabundos do Ritmo” que acompanhava os candidatos a artista. É que Cardoso, além de disritmado, trocava as letras das músicas. Um dia chegou ao programa e anunciou:

− Senhoras e senhores, é um prazer cantar para “vocezes”. Vou cantar, de Aderlindo Moreira, “Deusa do asfalto”. – E castigou:

Um dia

Sonhei com um “poiquim” risonho

E coloquei o meu sonho

Num “senegal” bem alto

Não devia, num “comício” me condeno,

Sendo de “gorro” e moreno

Mamar na deusa do asfalto…

O “cantor das massas”, como era chamado pelo apresentador, sofreu uma vaia daquelas. Superando os gritos e assovios, Cardoso aumentava o berreiro. O pessoal foi saindo, alguns atirando tampas de garrafa e até copos, a vaia comendo no centro. Ficou apenas um deficiente físico por nome “Vinte-e-nove-trinta”. Quando Cardoso resolveu parar, dirigiu-se ao rapaz:

− Muito bem, “Vinte-e-nove…” Apesar de aleijado, tem sensibilidade musical. Ficou pra me ouvir até o fim…

− Sei lá dessa “cunvelsa”! Quero saber é quem roubou minha muleta!

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Fábio Mozart

Fábio Mozart transita por várias artes. No jornalismo, fundou em 1970 o “Jornal Alvorada” em Itabaiana, com o slogan: “Aqui vendem-se espaço, não ideias”. Depois de prisões e processos por contestar o status quo vigente no regime de exceção, ainda fundou os jornais “Folha de Sapé”, “O Monitor Maçônico” e “Tribuna do Vale”, este último que circulou em 12 cidades do Vale do Paraíba. Autor teatral, militante do movimento de rádios livres e comunitária, poeta e cronista. Atualmente assina coluna no jornal “A União” e ancora de programa semanal na Rádio Tabajara da Paraíba.

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