Anotações do Twitter
Finalmente me rendi ao Twitter, a rede social de micro blog onde as pessoas postam informações, quase sempre inúteis, em 140 caracteres, no máximo. Não é necessário muito para transmitir sua ideia vazia ou seu aperreio de momento. “Poxa, pisei numa barata!” “Acordei agora, de ressaca. Alguém sabe um chá pra curar ressaca de vodca barata?” Vale desde observações pessoais até notícias jornalísticas.
Por enquanto, apenas dezesseis pessoas seguem meu Twitter. Na verdade, essa conta serve quase que tão somente para divulgar meus podcasts, “Rádio Barata no Ar”, de humor, e “10 Minutos no Confessionário”, reflexões pessoais transmitidas aos domingos na Rádio DiárioPB e algumas rádios online parceiras. Entretanto, essa ferramenta na web vem se adequando ao meu interesse como passatempo social e para apreciar a criatividade da galera. Navegando no Twitter, você fica abismado com as patacoadas do mundo oficial. O General Heleno quer saber quem comanda os perfis do Governo nas redes sociais. Ele se vacinou às escondidas, mas o Presidente ficou sabendo pelo Twitter. O Chefe do Gabinete de Segurança Institucional ter que pedir informações sobre quem mexe no Twitter dele é uma das piadas óbvias que rolam no Twitter e fornecem o material para a equipe de redação da “Rádio Barata no Ar”. Tuitando, vamos conhecendo figuras bizarras, outras inteligentes, babaquices junto com informações sobre seu time, entretenimento, zoeira, opiniões e debates frívolos, como por exemplo: quem deve ir para o paredão do BBB?
Recentemente interconectei-me com o tuiteiro Ameba, um sujeito que tem muitas histórias para contar. O personagem Ameba é um protótipo de velhaco, patife e sacripanta, tipo assim padrão do brasileiro médio, aquele que reclama da corrupção e só vota em quem ofertar nem que seja um pedal novo para sua bike velha. Ele se lastimou no Twitter: “Já tomei a primeira dose, segunda, terceira e esperando a quarta, tomei reforço contra Delta, Omicron, Megatrom, Voltron e Deception”. Outro fala sobre seu estado de espírito tuiteiro: “Navegarei no oceano da besteira e adorarei Salmacis, a deusa do ócio”. Também rola comunicação útil. “O Ministério da Saúde avisa: o que combate Covid é o óleo da cannabis, não o cigarrinho do capeta”. E as altas sacações filosóficas e morais? O próprio Ameba é autor do comentário puxado para a autoajuda: “Nem todo mundo que te abraça te quer bem. Às vezes a pessoa só quer te degustar”.
Os tuiteiros gostam de compartilhar tudo o que acontece em suas vidas, todos os tipos de vivências no mundo das “timelines”, mensagens cifradas tipo: “As lâmpadas de vidro estão queimando. Logo virá a égua descorada e, depois dela, os outros. A lula gigante e a chama escura, o leão e o grifo, o filho do sol e o dragão do pantomineiro. Não acredite em nenhum deles. Lembre-se dos imortais. Cuidado com o senescal perfumado”. Tem conselhos espirituais, incluindo umbandistas: “Preto velho diz que há dois remédios que curam qualquer mal: o silêncio e o tempo.” Na melhor retórica tuiteira, escondem-se também os cibercriminosos. Um médico pediatra, com a maior desenvoltura, prescreve para uma criança de três anos com Covid: “Cloroquina, dose para 15 quilos, duas vezes ao dia”. Outro reage: “Doutor, você é um verdadeiro macaco, único da nossa raça que não evoluiu pra sapiens sapiens e continuou sendo um orangotango com um cérebro de barata”.
O jornalista Rodrigo Ghedin constata que o Twitter “deixou de ser uma rede social ágil e divertida para se transformar em muitas coisas ao mesmo tempo, que, somadas, criam um ambiente extremamente inóspito”. Como se diz na minha quebrada, o moído é grande, muita apelação, centenas de milhares de seres que você não segue, aparecendo para concorrer com suas mensagens abafadas pela massa de informações de panacas de todos os matizes em um ecossistema caótico. Ghedin constata: “Há estudos que apontam que as redes sociais nos deixam mais deprimidos e afloram sentimentos extremos, como a raiva e a indignação. Os conteúdos extremistas repercutem mais. Não é à toa que nos últimos anos o Twitter virou a ferramenta de comunicação favorita de políticos populistas, teóricos da conspiração e neonazistas”. Conforme minha lógica dedutiva, se o Twitter é de graça, o produto é você. Para o bem e para o mal.