REFLEXÕES ALEATÓRIAS

Ainda estamos aqui

Imagem: Internet

Que semana! Quero começar esta análise me colocando no pequeno grupo de jornalistas que podem dizer, “eu avisei!”. A conclusão do inquérito da tentativa de golpe traz aquilo que, por um lado, estava explícito desde 2018, um criminoso eleito pelo ódio dos que se identificaram com ele, golpistas, racistas, misóginos e outras mazelas desumanas. Por outro lado, revela algo ainda mais sombrio que nos remete dolorosamente aos “anos de chumbo”, um exército perigoso com formações precárias e “feudos” hierárquicos estabelecidos desde 64.

O tema central da exposição que farei é exatamente sobre a gritante necessidade da desmilitarização no Brasil. “Pera”, chegarei nas policiais estaduais, mas vamos começar tratando das forças armadas. Historicamente criminosas. Sim, precisamos dizer que 21 anos de ditadura corrupta militar não aconteceu por causa de alguns, mas pela conivência de todos! Salvo raras exceções. Claro que o que está em evidência na mídia é só o exército (majoritariamente), mas os fatos envolvem as três instituições. Se não pela ação, pela omissão.

Sou da geração de 65, muitos da minha época chegaram ao entendimento político aos 13/15 anos – sim, nossa geração lia muito – e quero começar retornando a um erro grave dos que lutaram contra a ditadura que foi, em 79, aceitarem a ANISTIA ampla, geral e irrestrita com João Figueiredo, aquele que preferia o “cheiro dos cavalos ao do povo”. Mas piora, quem começou este processo de “reabertura” foi Geisel, outro carniceiro da ditadura. Reparem, Geisel, o general ditador da sequência, prometeu anistia como “lenta, gradativa e segura distensão”, com medidas que permitiriam a redemocratização no futuro” (Fonte:Agência Senado). Mas nunca foi isso!

A anistia beneficiou preferencialmente os ASSASSINOS da ditadura. Aqui chego com a cronologia, entre 73 a 78 a ditadura matou, desapareceu, torturou “sem dó”! A anistia nunca foi pra quem lutou contra a ditadura, foi pra quem matou insurgentes. O maior erro da esquerda neste processo. Importante ler os posicionamentos da ARENA à época (se você buscar os nomes, é a representação máxima da política hereditária). Nesse contexto é importante resgatar o histórico discurso de Ulysses Guimarães (MDB) na promulgação da Constituição de 88. Podia abrir um capítulo de perguntas; Jango, JK, Tancredo e Ulysses morreram “acidentalmente?”. E o Bibiano? O exército apontado pelas investigações da PF, hoje, é o mesmo exército sombrio de ontem, assassinos, conspiradores e ignorantes pagos com dinheiro público! Vou repetir essa parte de IGNORANTES, porque quem ouve um Mourão, um Braga Neto, um Heleno e, principalmente, um Bolsonaro, entende claramente o que quero dizer.

A situação atual nos impõe algumas realidades. A primeira, reformulação de todas as forças armadas! Fim da obrigação do serviço militar e a PROFISSIONALIZAÇÃO das forças, popularizando as academias de formação sem “filtro” familiar para acesso. Nas forças armadas não cabem psicopatas. E o principal, política não faz parte da carreira militar, exceto por suas representações políticas; associações e afins. Então, traduzindo, “milico” não pode ser político (assim como “religiosos”) e afirmo isso com dois fatos graves em menos de 10 anos. A ascensão de “milicos” e “pastores” na vida publica que propiciaram um golpe CIVIL (parlamentar, MIDIÁTICO e jurídico), um golpe anti povo – reforma trabalhista do “vampiro” Temer (Fleury) e agora outra tentativa de golpe. 37 indiciados, todos “umbilicalmente” ligados entre si. Sim, vou celebrar como um GRANDE DIA! Mas o pior, ainda, são os semelhantes golpistas entre nós. O cheiro fétido da ignorância exala fortemente nas redes sócias (sem controle) e nos espaços cotidianos.

E aqui aproveito pra fechar a análise chamando a atenção para a DESMILITARIZAÇÃO das PMS em todo país. Um modelo criado pela ditadura, pelo exército especificamente. Lembram do “prefiro os cheiro dos cavalos ao cheiro do povo”? Pois eis a lógica das PMs. E ela se manifesta com o indefectível “TAPA NA CARA”; dos pobres, dos pretos, dos periféricos, das minorias, sem falar nas execuções sumárias – diárias. Nossa policia militar não é nossa, é deles. Um modelo apodrecido que protege assassinos e agressores que usam o argumento de que são intocáveis, e são graças à IMPUNIDADE! Os números da impunidade policial são um “tapa na cara” em qualquer marco civilizatório brasileiro, em especial, os direitos humanos. Permitimos isso. A cada tapa não denunciado, a cada assassinato não exposto, a cada uso do famigerado “desacato” como argumento pra intimidar. Esta é nossa polícia, cujo lema real é “matar e se proteger”.

Por fim, quero colocar nesta análise algo ainda mais hediondo que andou de mãos dadas com o golpismo/neo fascista neste país, a mídia oligarca, instrumento do poder econômico predatório. E aí, por gravidade, duas culpas cabem às esquerdas; a NÃO regulamentação da mídia (parabéns Lula) e, também, a falta de uma reforma política e administrativa plebiscitária, ou seja, com o povo! Então, diante do quadro atual, fica claro que chegamos ao poder e não transformamos nada! Principalmente sobre o que nos mata! E agora? Continuaremos sendo cordeiros? Ou seremos um POVO, uma NAÇÃO? Hoje, novamente avisamos, ainda não acabou.

Por Ulisses Barbosa

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