REFLEXÕES ALEATÓRIAS

A vida do outro é do outro

Nesta semana fiquei muito “mexido” com uma série de fatos tristes. Todos remetem a algo do século 17. Não há nada nesse segmento, invariavelmente fundamentalista, que não represente; violências, preconceitos, mentiras em série e, principalmente, ignorância em estado bruto. Tudo isso em nome de Deus, não sei qual o Deus desse povo, O que “conheço” é Deus de amor. Sigamos.

A onda conservadora, se apoia nos dois pilares estabelecidos pós revolução francesa, o metafísico e o empírico. Os dois acabam convergindo pro fundamentalismo religioso. Um obscurantismo que arrasta a humanidade pra discursos vencidos e superados ao longo dos últimos três séculos em razão das lutas por liberdades individuais e coletivas. Os avanços civilizatórios foram conquistas das mulheres, dos negros, das minorias sociais e dos trabalhadores. Nenhuma das lutas vieram com doçura e afeto, pelo contrário, vieram com sangue, dor, lágrimas e muitas perdas.

Não posso sentir as dores das mulheres, nem dos negros, nem dos indígenas e nem dos LGBTQIA +, por não ser o “meu lugar de fala”. Não vivi essas dores no meu cotidiano. Posso falar dos pobres e dos trabalhadores, minha classe social. Minha posição sempre foi solidária e intransigente na defesa dessas lutas, todas elas. Nunca foi fácil, posso testemunhar isso desde 1980, quando acordo para o entendimento político e social. Ao mesmo tempo, também posso testemunhar os retrocessos, em especial, na quadra infernal de 2018 a 2022.

Um fundamentalismo anacrônico emergiu de mãos dadas com o neo fascismo sob o lema, “Deus, Pátria e Família”, uma “atualização” da famigerada TFP – Tradição, Família e Propriedade. A inspiração desse retrocesso humano veio com a exaltação de um psicopata miliciano fascista genocida e ladrão. Mas os conservadores da extrema direita NUNCA viram os crimes do seu “mito”, mas se julgam “palmatória do mundo” pra condenar todos os avanços humanos do século XXl. Enquanto estavam dentro das suas bolhas ruminando seus ódios, tudo bem, mas o ódio propagado pelo inelegível, empoderou essa massa ignara. E aí, tome debates vencidos sendo requentados pela régua fundamentalista.

De repente, resolveram, com a bíblia debaixo do braço, condenar tudo, “todas, todos e todes”! A incompreensão humana dessa “gente de bem cristã” resolveu criminalizar as mulheres e suas opções sobre seu corpo, os negros com seu racismo estrutural, os indígenas por serem incapazes de entender a história real do Brasi,l que nada tem haver com a REALEZA. Também criminalizam as lutas sociais e dos trabalhadores. Se julgam elite, representantes do patronato e até mesmo de Deus, só que não. Enfim, abraçam pautas apodrecidas no tempo e ejactam-se de serem defensores moral e dos bons costumes, só que não, dois.

O conservadorismo dessa gente revela uma ignorância funcional e um ódio ao diferente, inexplicável. Tudo o que abominam, contraria a Bíblia que carregam debaixo de braço como um estandarte do bem. Só que não, três. Essa gente abraçou o neo fascismo, passa pano pra falsos profetas e pastores canalhas, vomitam sua intolerância nas ruas e espaços sociais. São crentes da impunidade propiciada por um tempo sombrio que vencemos nas urnas. Não há mais espaço pra esse ódio insano e sem razão alguma. Não tenho religião, graças a Deus, mas respeito todas, ainda assim, vou defender com “unhas e dentes” o Estado Laico.

A fé de cada um é um direito assegurado pela lei da liberdade religiosa, mas nenhuma religião deve ser imposta e nem seus dogmas devem pautar o Estado. Chega de debates hipócritas sobre descriminalização do aborto, feminicídios, racismo, descriminalização da drogas e patrulhamento sobre comportamento. Nenhuma religião vai pautar o mundo. O mundo precisa de mais amor e menos ódio. E a defesa dessas pautas de costumes são movidas a ódio em estado bruto.

A expressão o “ódio venceu o amor” não é conclusão, é o início da retomada da civilidade a partir de discussões e debates sérios que apontem soluções pra garantir respeito aos serem humanos, “todas, todos e todes”! Nada além disso.

Por Ulisses Barbosa

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