A cada momento em que se afastam de suas origens, as culturas ocidentais deixam de conjugar as virtudes exigidas pelas tradições filosóficos – o que implica no embotamento dos campos político e filosófico.
Evidentemente, que as virtudes não são conceitos culturalmente fixos, mas são estruturas parecidas com o clinamen – o espaço indutor dos movimentos dos átomos.
As virtudes servem para enfatizar a força dos fenômenos sociais, as maneiras como eles podem ser reconhecidos socialmente.
No mundo ocidental, de vasta influência cristã, valorizamos três virtudes que são consideradas capitais no convívio social: a verdade, a beleza e a bondade.
Essas três virtudes citadas acima são objetos de análise de Howard Gardner, em seu belo livro, O verdadeiro, o belo e o bom -redefinidos – novas diretrizes para a educação no século XXI.
Numa sociedade pautada pela retórica midiática, destacamos dos ensinamentos de Gardner a preocupação em redefinir o significado da verdade numa sociedade de alto desenvolvimento tecnológico e distribuição massiva de bens de consumo.
O choque entre a verdade e a convicção midiática se dá na maleabilidade da linguagem.
Enquanto a filosofia está preocupada em desmistificar a origem das verdades, partindo do princípio de que tudo não passa de uma invenção, a mídia elabora uma construção diária de convicções.
A filosofia instaura a dúvida; a mídia a certeza.
A verdade filosófica está no método investigativo – no processo capaz de quebrar modelos pré-estabelecidos, na capacidade de se espantar com a força dos novos fenômenos.
A convicção midiática produz ilusões semânticas, quer sejam do ponto de vista linguístico, quer sejam do ponto de vista visual.
Se o mundo moderno pagou um preço alto por adjetivar a verdade no sentido aritmético – 2+2=4 – a sociedade midiática transformou a convicção em uma construção movente – dependendo das conjunturas comerciais.
Na mídia, não há verdades, mas produções de convicções. Por isto, todo produto é The Best – toda fórmula de convívio social é receita para o sucesso pessoal.
Umas formas de evidenciar a construção de convicções midiáticas é um emprego de técnicas narrativas no jornalístico que padronizam o comportamento das massas – como a Espiral do Silêncio ou mesmo conceitos abstratos como Leitor Comum
Noutra margem, a mídia ignora as diferentes nuanças da verdade filosófica e as submete à padronização do discurso informativo e às regras da sociedade de consumo, pois qualquer verdade pode ser negociada de acordo com o seu valor de troca ou de uso.
No momento em que a convicção midiática se choca com a verdade filosófica, a grande perda social se dá no exercício do sendo comum – cujo objetivo é valorizar o imaginário das culturas.
O senso comum está mais próximo da verdade no sentido filosófico. Ele busca a verdade nas associações simbólicas que cada indivíduo é capaz de realizar na vida cotidiana.
A convicção midiática procura mascarar as relações políticas, de gênero, estéticas que – na maioria das vezes – são vistas pelas comunidades como axiomas – tão evidentes que não precisam ser provadas, pois pertence ao imaginário do povo ser belo, feio, bom, mentiroso e verdadeiro.
As verdades cotidianas são de uma riqueza empírica ímpar, o que acaba gerando imaginários incapazes de ser controlados pelas convicções midiáticas, que insistem em in-formar (dar forma) aos telespectadores leigos, leitores analfabetos, ouvintes que não sabe escutar.