A prática política do diálogo
Não acredito que exista boa prática política onde não prevaleça a capacidade de diálogo. É assim que se estabelece a moderação nas divergências, o equilíbrio nos conflitos, o respeito ao pensamento discordante e a percepção das ansiedades coletivas. O diálogo contribui para que se construa uma sociedade melhor e mais justa. Como chegou a dizer Paulo Freire: “o diálogo cria base para a colaboração”. Soluciona desentendimentos e transforma campos de batalha em ambientes de paz.
É preciso vencer a inclinação humana para valorizar os interesses particulares em detrimento dos coletivos. Não podemos permitir que a arrogância e o egoísmo estraguem as relações solidárias. Ninguém é dono absoluto das verdades. Todos nós somos seres que necessitam da colaboração de outros, no exercício da humildade em reconhecer que “não somos individualmente o centro do mundo”. O compartilhamento de saberes ajuda a definição de atitudes em favor da vida social.
A democracia só se afirma quando prepondera o clima de diálogo numa comunidade, oportunizando a que líderes e liderados se permitam ouvir uns aos outros, na expectativa de encontrarem o consenso amparado no racional, nunca no impulso das emoções ou das ambições pessoais. O autoritarismo é a negação da capacidade de diálogo. A tirania é a postura própria dos que se negam a estabelecer o diálogo como princípio essencial da democracia.
Quando o diálogo se estabelece, não oferece espaços para ódios, vinganças, perseguições, procedimentos que comprometam legalidades. As crises, os acirramentos, as animosidades, em prejuízo do bem comum, resultam da incapacidade do líder em dialogar.
Preocupado com esse clima de beligerância estimulado pelo presidente da república, atacando, a todo instante, as instituições democráticas, se negando ao diálogo que harmoniza as relações, o papa Francisco chegou a fazer a seguinte recomendação aos brasileiros: “é preciso investir todas as forças no diálogo para reconstruções, respeito a legalidades e encontro das indispensáveis saídas, evitando descompassos que comprometam a civilidade, a ordem e a justiça”.