A palavra é o Gênesis de todas as mídias.
Na Cultura ocidental a palavra dá à luz ao Logos e ao verbo, a toda imagem e iconografia que não podem ser explicadas sem o uso de palavras.
Se a razão diz que uma imagem vale por mil palavras é difícil explicar isto prescindindo de palavras.
A palavra é o significado e o significante, o conteúdo e a forma na produção dos discursos ocidentais.
Platão e Aristóteles criaram regras para embalar as melhores palavras, através de uma rigidez retóricas, mas foram os sofistas que dessacralizaram e popularizam o uso da palavra.
O Cristianismo subverteu ordens semióticas a partir da filosofia medieval de Santo Agostinho; partindo do significante ao significado (este é o corpo, este é o sangue de Cristo) usando o código verbal como reino da semiologia (Linguística) dominante em relação às outras formas de linguagens (Semiótica).
A palavra na Cultura ocidental é larva e borboleta, cores e sons, istmos que preenchem o vazio das ideias nas formas comparativas ou imaginativas das realidades.
Palavra na mídia é mot de passe(senha) para proteger ou revelar contextos culturais em suas nuances – diferenciações tratadas na complexidade social.
Na Modernidade, o cinema deixou de ser mudo e fez sua transição para a nova forma cinematográfica que inclui a palavra com signos pontuadores das imagens. Assim, a palavra-cinematográfica renovou a arte do roteiro e deu destaque à fala.
O rádio, considerado um dos mais importantes meios de comunicação de massa, tomou para sim o domínio da palavra no planto socrático: a sonoridade da fala (Linguística) que gera formas imagéticas de discursos (Semiótica).
No Ocidente vivemos sobre o reino da palavra, ora encarnada em Logos, ora em Verbo. Pois todas as formas artísticas quando necessitam de explicação recorrem a referencialidade das palavras.
Mas a palavra não é apenas mera técnica instrumental. Ela é também produção de beleza, como acontece com a poesia e as letras das canções de grandes compositores populares ou palavras pintadas.
Palavra puxa palavras que geram novas formas estéticas. Portanto, na mídia as palavras ainda exercem forte poder de significação.
Quando a mídia se endereça ao Reino das Palavras, em geral, ela admite o uso de diversos gêneros narrativos: jornalismo, radiojornalismo, telejornalismo, telenovelas, transmissões esportivas, narrativas de entretenimento, o talk show. Por isto, a mídia na palavra requer léxicos e sintaxes diferentes.
Uma das formas de se perceber a relação da mídia com as palavras está, justamente, no enriquecimento da sintaxe dos conceitos oferecidos pelos mecanismos de busca nas mídias digitais como o Google, por exemplo.
Por trás do Google, este castelo de cartas ou peças de dominó fornecedor de conceitos, conteúdos, está justamente uma palavra: algoritmo.
O algoritmo é a palavra que gera e controla imagens, sons, discursos, iconografias fornecidas pelos mecanismos de busca. É a engrenagem do mundo digital que fornece significados em série.
Em seu livro, Palavras – maravilhas da língua portuguesa, Paulo Caliendo afirma:
“O algoritmo é o latim de nosso tempo. É linguagem culta e secreta de nosso mundo daqueles capazes de ler para além das aparências de aplicativos celulares, computadores e dizem até geladeiras”.
Novamente, uma palavra, algoritmo, mostra que pode ler o mundo para além das formas aparentes, o que está contemplado pela filosofia de Santo Agostinho, mas também pela semiótica de Wittigenstein.
Assim, na relação entre palavra e mídia, mídia e palavra, o algoritmo é o oráculo do mundo pós-moderno.