Em tempos de Fake News, não sabemos qual a origem das verdades estabelecidas institucionalmente e se elas, realmente, atendem aos interesses públicos ou são apenas formas de controle do social.
Assim como a palavra Cultura, o termo Verdade é um dos mais difíceis de decodificação, pois se torna transitivo ou intransitivo de acordo com o exercício dos diversos imaginários culturais de diferentes povos.
A filosofia e a história escritas pelos gregos antigos estabeleceram critérios de verdade que não foram aceitos como universais por algumas culturas, como o Cristianismo – por exemplo – que passou a valorar a ideia de um deus monoteísta e não politeísta.
O conceito de verdade cunhado pelos gregos também chegou ao Ocidente através de dois aspectos, o mundo material e o mundo das ideias.
O superior Mundo das Ideias inerente à filosofia de Platão foi usado por Santo Agostinho (13 de novembro 354 Tagaste/28 de agosto 430 Hipona) para demonstrar a força e a verdade do Deus cristão – capaz de gerar uma vida melhor.
A materialidade do mundo foi valorizada por Aristóteles, através de sua retórica e causas, mas também por filósofos como Kant, Hegel e Descarte para os quais o racional era a ‘última paisagem’ da realidade.
No Mundo ocidental, em países como a França especificamente, a verdade até – por incrível que pareça – os anos 1960 era concebida como objetividade: palavra técnica usada para atingir determinados propósitos no desenvolvimento de um campo de saber.
Assim, cada ciência apresentava sua verdade, cujo método era ‘normatizar’ as relações sociais para obter o controle do mundo social. Nesse sentindo, podemos perceber a fragilidade da verdade a partir de suas construções.
Em geral, todo campo de saber capaz de fornecer ferramentas histórico-cognitivas às ciências trata a verdade como o absoluto, o ponto final do transporte metafísico, da imaginação. Assim, podemos verificar o que significa a verdade em três áreas do conhecimento: 1) filosofia; 2) direito; 3) mídia.
Na Filosofia nos deparamos com as idiossincrasias do filósofo Nietzsche (Röcken, Reino da Prússia, 15 de outubro de 1844 — Weimar, Império Alemão, 25 de agosto de 1900) que, ao combater o racionalismo kantiano do século XIX, afirmou que não há uma origem das coisas (no sentido puro), mas invenção humano, a partir da luta bruta entre os instintos humanos – dos quais se retira as centelhas do conhecimento numa luta de espadas que se batem e se torcem até gerar o drama enunciativo das origens.
No Direito – como campo operador de normas, buscamos o auxílio de Michel Foucault (Poitiers, 15 de outubro de 1926 — Paris, 25 de junho de 1984), em seu livro, A verdade e as formas jurídicas. Nesse livro, Foucault revela a evolução dos métodos no plano judicial para garantir a sacralização da palavra verdade como forma de legitimar as práticas judiciária.
Como método para se chegar a um veredicto jurídica, Michel Foucault, em A verdade e as formas jurídicas, cita o nascimento do Inquérito na Idade Média. Depois, no século XIX surge a Prova – como elemento material-discursivo que torna o julgamento mais complexo.
O que Michel Foucault nos ensina é que a verdade abandona o campo teológico (base de sustentação religiosa); passa a ser um dispositivo técnico, dependendo da interpretação do modelo de fatos sociais dos legisladores.
Na mídia – conjunto de meios de comunicação digitais. artificiais e cinéticos – a verdade se legitima através das retóricas que podem estar no âmbito da língua escrita ou falada (Linguística) ou das linguagens (Semiótica), imagens, sons, movimentos.
A verdade na mídia é construção e desconstrução discursivas – ao mesmo tempo – pois atende a imperativos da sociedade de consumo e de sua forma mais refinada, o espetáculo.
Como seres mergulhados (às vezes afogados) no discurso midiático, devemos desconfiar da originalidade da verdade (Nietzsche), de sua eficiência como dispositivo jurídico (Michel Foucault) e das formas persuasivas das vozes e ações midiáticas.