A isenção política
Fico preocupado quando vejo alguém se declarar isento politicamente. Na minha compreensão todo ser humano precisa ser político. Isso não quer dizer que seja necessário filiar-se a algum partido. E que também não representa falar que a pessoa deva assumir a defesa apaixonada de posições antagônicas, muitas vezes extremadas. Ser ativo na política é cumprir com o dever de cidadania, participando efetivamente dos debates que busquem melhorar as atitudes sociais, principalmente por aqueles que se dedicam à administração pública. Manifestar opinião faz parte do processo republicano. Fugir disso é praticar a omissão irresponsável.
Os que se declaram isentos politicamente, sem que percebam, desprezam fatos que estão à vista de todos e que merecem questionamentos e análises críticas. Fecham os olhos para os desvios éticos e morais com repercussão na nossa vida enquanto integrantes de uma sociedade. Os erros sendo observados como acertos, porque não se dão ao trabalho de os examinar com senso crítico. Procurando manter a aura de imparcialidade, não se dispõem a rebater falsas acusações ou “verdades” construídas que interessam exclusivamente a um dos lados. Quando se calam diante da ditadura do pensamento único, tornam-se cúmplices de comportamentos manifestamente desinteligentes e potencialmente controversos.
Não podemos permitir que nossa consciência política seja anestesiada, nem abrirmos mão da nossa capacidade de pensar reflexiva e racionalmente. Ausentar-se do debate político, com o argumento de que não tem lado, é contribuir para que se intensifiquem os ataques à democracia pelos que são vocacionados para o autoritarismo. Acomodar-se, numa postura de apatia, diante dos problemas vivenciados e que afetam a todos coletivamente, é concordar passivamente com atitudes nocivas à sociedade.
Não se posicionar politicamente é, antes de qualquer coisa, uma atitude de covardia. Não deixa de ser uma “servidão voluntária”. Não se interessar por política é deixar que os mal intencionados tomem decisões por nós. O historiador Arnold Toymbee afirmou: “O maior castigo para aqueles que não se interessam por política é serem governados pelos que se interessam”. É esse o objetivo maior dos malfeitores da vida pública. O conformismo é sinônimo de desistência. Tudo o que desejam os poderosos de plantão.
Os isentos recusam atuar como agentes de transformação da história, abrindo espaço para o arbítrio, numa adesão conformista com o “status quo”. Nossa omissão como cidadãos é prejudicial à democracia. Fazer política é entender que somos sujeitos de direitos e assim cobrarmos dos governos e instituições a manutenção desses direitos, apoderando-nos de seus mecanismos para usa-los em nosso favor.
Rui Leitão