CULTURA

Bancário da Paraíba abre o jogo e lança livro com o título “Não é a droga, sou eu”

Eziel explica que, apesar de ainda está em tratamento, resolveu publicar o livro como forma de ajudar e encorajar outras pessoas que passam pela mesma problemática dele, e não sabem o que fazer para enfrentar a dependência química.

Sem medo de enfrentar preconceito, discriminação e qualquer tipo desprezo da sociedade, o bancário Eziel Inocencio, de 49 anos de idade, nascido no Rio de Janeiro, mas residindo em João Pessoa desde 1979, assume a condição de dependente químico no livro “Não é a droga, sou eu”, que será lançado no dia 04/04/2023, às 19h, no Casarão 34, na Praça Dom Adauto, centro de João Pessoa.

“A sociedade tem que entender que a dependência química é uma doença. Não é nenhum desvio moral, como muitos pensam”, disse o escritor do livro com 180 páginas.
O escritor, que assume no livro sua dependente no álcool (droga lícita) e na cocaína (droga ilícita), faz tratamento no Instituto Recife de Atenção Integral às Dependências (Raide), há 10 anos, com períodos de internação e de permanências externas. “Comecei a escrever o livro em 2018, como forma de registrar o conhecimento sobre mim mesmo e, ao mesmo tempo, mostrar como as pessoas que bebem e consumem algum tipo de droga podem descobrir se são dependente ou não”, disse.

A partir da própria experiência, o autor envereda por argumentos que abrem caminhos para as pessoas descobrirem a motivação e as causas que as levaram à dependência. “Eu procurei o tratamento e acabei descobrindo que as causas da minha dependência estão na carência e no medo de enfrentar os desafios da vida. Mas, essas dificuldades psicológicas só são descobertas quando a gente se aprofunda no tratamento. Depois de identifica-las ficará mais fácil tratar as causas que levam às consequências que são as drogas. Para chegar a esse estágio, é necessário primeiro decidir se tratar de forma voluntária. Na clínica onde estou é assim: a pessoa tem que ir espontaneamente. Pouca gente sabe, mas os planos de saúde cobrem esse tipo de tratamento. Eu sou um exemplo disso”, afirmou.
Eziel explica que, apesar de ainda está em tratamento, resolveu publicar o livro como forma de ajudar e encorajar outras pessoas que passam pela mesma problemática dele, e não sabem o que fazer para enfrentar a dependência química.

O livro está saindo pelo Selo Anima, com produção e edição de Léo Asfora (responsável – inclusive – pela epígrafe e pela orelha da obra). ‘Não é a droga, sou eu’ tem quase 200 páginas de extrema honestidade do autor, que se despe frente ao leitor ao revelar percepções e fatos íntimos de sua luta, abordando histórias de sua infância, adolescência e fase adulta e revelando experiências pessoais.
As escolhas indevidas
“Meu livro é sobre escolhas inconscientes, escolhas que fazemos e caminhos que seguimos na vida movidos por sentimentos que não percebemos. O inconsciente influencia nossas escolhas muito mais do que pensamos. Descobri que sempre fui movido (e paralisado) por desejos e medos muito fortes, mas também muito escondidos. Percebê-los foi fantástico, mas foi a parte mais fácil. Difícil mesmo foi, e continua sendo, aprender a lidar com eles, enfrentar o medo e domar o desejo. São dez anos de tratamento e só agora sinto que estou conseguindo, iniciando”, relata.

Ele explica que “todos nós travamos uma luta interna entre sentimento e razão, a diferença é que em mim esta luta determina minha liberdade ou uma vida de escravidão. Para mim, o caminho da liberdade exige coragem de enfrentar meu medo de correr riscos e suportar frustrações para obter também vitórias e conquistas. A escravidão é um caminho mais fácil, cômodo, previsível, sem riscos, aparentemente sem vitórias ou derrotas, mas na verdade é a própria derrota, sem luta, por desistência”, alerta.

Não há vidas isentas de problemas
O escritor confessa que com medo de sofrer, durante anos, escolheu o caminho da desistência e acabou sofrendo ainda mais, a dor do fracasso sem luta. “Me agarrei a um instrumento de alívio imediato, um plano B e acabei virando escravo dele. Hoje, minha única saída é enfrentar o que sempre temi: buscar o que desejo sem medo de expor minhas limitações. Não há vida sem riscos, sem derrotas e conquistas, sem dores e prazeres. Não há como ter só vitórias, não há como mostrar somente qualidades e virtudes. Tentando esconder meus defeitos e limitações, durante muito tempo escolhi não viver, mas sinto que agora estou escolhendo o caminho da liberdade, trabalhoso e incômodo, mas também gratificante”, concluiu.

O livro não é manual sobre como vencer as drogas
A respeito do livro de Eziel, o escritor, poeta e editor Léo Asfora comenta na orelha da obra que as crônicas curtas, leves (porém profundas) são em torno de uma jornada de autoconhecimento analisando sentimentos e traumas de infância que o levaram a estabelecer uma relação de dependência não só com drogas lícitas e ilícitas mas também “com pessoas e situações que proporcionam prestígio e poder, numa busca incessante por aceitação, aprovação e reconhecimento”.

Professor do Departamento de História da UFPB e escritor, Flávio Vieira comenta no prefácio da obra não é de autoajuda nem manual com um passo a passo para quem deseja se livrar do vício das drogas. “Eziel Inocencio é um escritor e sua escrita flui, calma, regular, elegante e corajosa, talvez para compensar as torrentes de angústias que tomam conta de sua alma, em um estilo próprio e intimista com o qual ele expõe — e se expõe — sua trajetória”.

Eziel – como disse Flávio Vieira – não tem a pretensão de publicar um manual de combate ao vício. Seu foco está no autoconhecimento. Em trecho do livro, ele destaca que a droga nunca foi seu maior problema e sim ele mesmo. “Se conseguir mostrar que somos movidos por sentimentos e desejos profundos e ocultos, os quais muitas vezes temos dificuldade de admitir, que relações de dependência num nível não patológico todos nós temos, já estarei satisfeito”, afirma o autor no texto da contracapa.

Jaimaci Andrade

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