TOCA DO LEÃO

Bento Júnior inspira crianças e recebe homenagem

O professor-barra-poeta Bento Júnior teve seu nome na cordelteca da Escola Almirante Barroso, em João Pessoa. Os amigos da Academia de Cordel do Vale do Paraíba adoram ter esse camarada entre nós, um misto de palhaço, poeta, saltimbanco e mestre das artes cênicas, eterno “João Grilo” da peça “O auto da Compadecida”, autoria do seu guru, Ariano Suassuna. Por isso estivemos na festa de inauguração da cordelteca da escola. Mestre Bento Júnior compareceu com seu chapéu de Charles Chaplin e os trejeitos ridículos do mais autêntico e terno clown nordestino e seu “cordel brasileiro”, borbulhante de pensamentos gracejantes nos seus folhetos anárquicos, abraçando apertado cada amigo, cada aluno, um por um dos colegas professores e professoras.

Bem-vindos os que vêm em nome da alegria e da poesia inocente dos cordelistas! Na minha fala de saudação ao colega Bento, eu disse que, ao ser empossado como vereador na capital da Paraíba, meu primeiro ato será propor a criação do Dia Municipal de se Viver, se Comportar, se Relacionar e ser Gente como Bento Júnior. Tão estapafúrdia como essa pretensão de ser vereador é a proposição de tal dia. No entanto, a ideia segue a lógica bentista, isto é, do próprio Bento Júnior, cuja enorme autoestima contagia quem estiver por perto e ninguém fica livre dos seus tentáculos de amizade e cordialidade. É um sujeito do bem, de bem com a vida e bem safadinho. Sua risada, às vezes dissimulada, outras avacalhada, ponteia sua presença na vida real e nas atuações como poeta declamador, âncora de programa de rádio, ator e comediante em podcast de humor nas plataformas da globosfera.

Meu compadre Bentinho, sou muito grato por você despertar os jovens das escolas onde ensina para a linguagem do cordel. É incrivelmente agradável a sensação de ver meninas e meninos largarem seus tablets e celulares para ler e compor poesia popular. Então, eu e as confreiras e confrades da Academia de Cordel do Vale do Paraíba concordamos que algo deveria ser feito para você se orgulhar pela sua vida dedicada às artes da palavra, dos gestos e da amizade. Sim, porque a pessoa ter seu nome em uma biblioteca, mesmo antes de subir para o andar de cima, não é pra qualquer comedor de farinha. Na ocasião, foi dada a palavra a um poeta dado ao uso de palavras compridas, prontamente interrompido pelo próprio homenageado: “isso é um discurso ou é a Voz do Brasil?” É assim esse Bento, inimigo delicioso das formalidades e protocolos, sempre de bem com a vida corrida sem salamaleques e babujados, como se diz nas suas quebradas.

Temos então em João Pessoa, capital da Paraíba, a primeira cordelteca homenageando um poeta vivo e guerrilheiro contra vidas pedantes. Tem muito poeta chocantemente ruim que ficará em estado de choque porque Bento Júnior foi afortunado, ao ter seu nome ligado a uma cordelteca. Um deles, de forma sarcástica, chegou a insinuar que Bento Júnior só foi escolhido para a homenagem na escola porque a eleição se deu em urna eletrônica. Se rolasse voto impresso, o resultado seria outro. O que é mais uma vantagem para a glorificação do poeta Bentinho, aquele que acredita na ciência e na tecnologia e rejeita pensares retrógrados de palhaços sem graça.

Eu, de minha parte, também levemente contagiado pelo vírus da inveja, lavrarei um folheto cujo título será “Bento Júnior, o poeta motivacional no país do Bananal”, onde se descreve com rigor científico a influência da poesia de chacota para o combate sistemático e sub-reptício da burrice, preconceito, má índole e prevaricação da nação bananeira. Quando você se sentir muito pra baixo, desacreditado na salvação de nosso caráter de gente boa, leia um folheto de Bento Júnior e relaxe! E quando quiser ver de perto a cordelteca que leva o nome do poeta, visite a Escola Almirante Barroso, na Rua Enedino Jorge de Andrade, 372, em Cruz das Armas, João Pessoa/PB. Lá também tem cordéis de Fábio Mozart e outros escrevinhadores da Academia. Recomendando que você entre para o time dos felizes, lépidos e fagueiros amigos de Bentinho. Se não conseguir uma vaga, há algo de muito errado com você.

Fábio Mozart

Fábio Mozart transita por várias artes. No jornalismo, fundou em 1970 o “Jornal Alvorada” em Itabaiana, com o slogan: “Aqui vendem-se espaço, não ideias”. Depois de prisões e processos por contestar o status quo vigente no regime de exceção, ainda fundou os jornais “Folha de Sapé”, “O Monitor Maçônico” e “Tribuna do Vale”, este último que circulou em 12 cidades do Vale do Paraíba. Autor teatral, militante do movimento de rádios livres e comunitária, poeta e cronista. Atualmente assina coluna no jornal “A União” e ancora de programa semanal na Rádio Tabajara da Paraíba.

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