Que a inflação está alta o brasileiro já sabe, e os números comprovam. A prévia do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) dos últimos 12 meses já chegou aos 10% e é um dos maiores em anos.
E não é só para o bolso que a inflação alta traz impactos. Subidas de preços muito fortes e persistentes geram uma série de distorções – de imprevisibilidade nos negócios a piora do bem-estar das pessoas – e que, em última instância, travam a economia e derrubam o crescimento do país. Menos crescimento significa também menos emprego e menos renda.
“É bom ter alguma inflação. Inflação zero é ruim, significa que os preços não estão subindo, mas a renda das pessoas também não”, disse o economista Heron do Carmo, professor sênior da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP) e especialista em inflação.
“O ideal é ter a inflação controlada em um nível baixo. Para o Brasil, uma taxa na casa de 3% está ótimo. Mas, quando ela chega perto dos 10%, já começam a haver distorções.”
O Brasil, como boa parte dos países, possui um sistema de metas para a inflação e, para 2021, essa meta é de 3,75% – ou seja, bem para trás de onde está o IPCA atualmente.
Veja as principais consequências de uma inflação muito fora dessa meta e por muito tempo:
Mais juros. Menos crédito, consumo e PIB
A principal consequência da inflação alta é que, quando ela sobe, o jeito conhecido ainda mais eficaz de fazê-la baixar é subir os juros – e é o que o Banco Central faz quando vê que ela não está dando sinais de que voltará para a meta sozinha.
No Brasil, o BC faz isso por meio da Selic, a taxa básica de juros que serve de piso para todos os empréstimos e investimentos em renda fixa do país.
O problema é que juros subindo têm o efeito de esfriar o crescimento da economia. E a ideia é justamente essa: fazer as pessoas e empresas comprarem e investirem menos para que os preços parem de subir.
Economia mais fraca, por sua vez, enfraquece a geração de empregos e pode levar até a demissões.
“O objetivo do aumento de juros é impactar o crédito, e quanto mais caro o crédito fica, menos atividade o país terá”, diz o economista André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fundação Getulio Vargas (FGV).
É por conta do aumento atual de juros que os economistas não param de revisar para baixo as expectativas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do país no ano que vem, em alguns casos até para menos de 1%.
Renda fica menor
Há o efeito mais imediato e perceptível de uma inflação muito alta: o dinheiro vai sendo capaz de comprar cada vez menos coisas. O salário mínimo, por exemplo, hoje de R$ 1.100, terminou agosto comprando R$ 62 menos hoje do que em janeiro.
Preços salgados acabam fazendo também com que as pessoas consumam menos e atrapalham o crescimento econômico e a geração de emprego.
“A inflação é como um cupim que come o dinheiro ao longo do tempo”, disse Braz, da FGV.
“As pessoas vão tendo que colocar menos coisas no carrinho e, dessa forma, o seu bem-estar vai diminuindo. E, quando a fila de desempregados está muito grande, o trabalhador perde o poder de barganha e não consegue ter aumento.”
Imprevisibilidade e menos investimentos
Preços altos e a falta de perspectiva de que eles voltem a baixar também acabam atrapalhando os negócios das empresas e travando decisões de investimentos e compras.
“Gera muita imprevisibilidade e dificulta o cálculo econômico. A empresa não consegue prever sua rentabilidade e se planejar”, diz Carmo, da FEA.
“Uma pessoa que, por exemplo, planeja investir em uma casa nova também terá dificuldade, porque ela não sabe qual será a sua disponibilidade de recursos, de fato.”
Reajustes geram mais reajustes
Outro problema de preços descontrolados é chamada indexação – os reajustes automáticos de contratos e salários pela inflação, uma herança que o Brasil carrega desde os tempos de hiperinflação.
Se a inflação fica mantida todo ano dentro da meta – em 3,75%, por exemplo – os reajustes do ano seguinte serão também de 3,75%, e a variação não sai muito de onde está.
Mas se o aumento começa a ficar muito forte – em 10%, por exemplo –, ele carrega esses 10% para os reajustes futuros e retroalimenta mais inflação.
da Redação com CNN Brasil.