Ao vivo: Auditor do TCU confirma à CPI que documento sobre número de mortes por Covid foi adulterado após envio a Bolsonaro
O auditor do Tribunal de Contas da União (TCU) Alexandre Marques indicou que um documento produzido por ele com dados sobre as mortes por covid-19 foi adulterado antes de ser usado pelo presidente Jair Bolsonaro para questionar o número de óbitos pelo novo coronavírus no Brasil.
BRASÍLIA — O auditor do Tribunal de Contas da União (TCU) Alexandre Marques confirmou à CPI da Covid, no Senado, que o documento sobre número de mortes por coronavírus foi adulterado após ser enviado ao presidente Jair Bolsonaro (Sem partido). Ele é o autor do relatório usado pelo mandatário para questionar as notificações de óbitos em decorrência da pandemia. Bolsonaro chegou a atribuir o material ao TCU, mas, em nota, a corte de contas negou que o relatório tenha sido produzido pelo órgão e informou que se tratava de “uma análise pessoal” do auditor.
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#CPIdaPandemia ouve o depoimento do auditor do TCU, Alexandre Marques – 17/8/2021 – YouTube
A CPI recebe o auditor do Tribunal de Contas da União para esclarecer sobre o estudo feito pelo servidor, segundo o qual metade das mortes confirmadas no Brasil por Covid-19 não teria ocorrido. O estudo foi citado pelo presidente Jair Bolsonaro.
Questionado pelo relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), se Marques confirmava ser o autor do documento citado por Bolsonaro, o auditor disse que produziu um texto em formato “Word” que não era conclusivo. Renan também exibiu o vídeo do depoimento dele no processo administrativo em curso no TCU, no qual afirmou que o discurso de Bolsonaro foi “irresponsável” e que o documento produzido por ele foi alterado depois de ter sido encaminhado para seu pai. Ele também confirmou que o pai enviou o arquivo para Bolsonaro.
— Essa falsificação foi feita após o envio do documento por seu pai à Presidência da República? — perguntou Renan.
— Sim, senhor. Foi após — respondeu Alexandre.
Renan perguntou então quem alterou o documento, mas o auditor disse não ter essa informação. Marques também confirmou ter ficado indignado com a atitude de Bolsonaro de atribuir ao TCU o documento.
O pai do auditor é o coronel reformado Ricardo Silva Marques, que foi colega de Bolsonaro na academia militar e tem cargo na Petrobras.
Pai repassou o arquivo
Em sua fala inicial à CPI, Marques disse que começou a pesquisar na internet, como por exemplo dados oficiais no portal da transparência do registro civil, para analisar possíveis inconsistências nos dados de mortes por Covid-19 que balizariam a distribuição de recursos. Ele disse ter discutido isso dentro do TCU com colegas, mandando um arquivo em formato em “Word” com as considerações que havia feito, mas chegaram à conclusão de que seria impossível ter ocorrido conluio para adulterar os números. Ele afirmou também ter enviado o arquivo para seu pai, que teria passado o documento adiante.
— Em nenhum momento passou pela minha cabeça que ele compartilharia o documento com quem quer que fosse — disse Alexandre.
Questionado sobre as diferenças entre o texto que ele fez e o citado por Bolsonaro, Alexandre disse que não viu o documento que estava com o presidente, mas somente o PDF que viralizou na internet. Segundo ele, as diferenças foram alguns trechos grifados em amarelo e a inclusão do nome “Tribunal de Contas da União”.
O documento apócrifo contesta o número de mortos por Covid-19 notificados no país em 2020. Afirma que o país teria registrado 80 mil mortes pela doença no ano passado, e não 195 mil. O auditor está lotado no setor do TCU que lida com inteligência e combate à corrupção. Quando começou a pandemia do novo coronavírus, ele pediu para acompanhar as compras com dinheiro público de equipamentos para o enfrentamento à doença.
Em 9 de junho, a CPI aprovou a convocação de Marques. No dia seguinte, quebrou seus sigilos telefônico e telemático. Paralelamente, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), o autorizou a não responder questionamentos que possam incriminá-lo. Investigado pelo TCU por meio do PAD, o servidor foi afastado de suas funções. O processo administrativo estava previsto para ser encerrado na semana passada, mas foi prorrogado por 30 dias. Com isso, ele continua impedido de trabalhar.
Fonte: extra.globo.com