Militares “verificados” pelo Twitter somam 5 milhões de seguidores e espalham fake news
Por Paulo Motoryn, do Brasil de Fato – O Twitter “verificou”, nos últimos três anos, a conta de pelo menos 15 oficiais das Forças Armadas na rede social. A plataforma concedeu o “selo azul”, que reafirma a autenticidade do perfil, a generais, tenentes, coronéis e brigadeiros, da ativa e da reserva.
A verificação, de acordo com a própria rede social, em nota enviada ao Brasil de Fato, tem o “objetivo de prover às pessoas na plataforma a garantia de que aqueles perfis são, de fato, de quem dizem ser”.
Especialistas ouvidos pela reportagem apontam, contudo, que o selo propulsiona o crescimento dos perfis e amplifica o alcance das mensagens publicadas. “Sem dúvida, a partir de nossos monitoramentos diários, a chance de uma post viralizar quando é publicado por um perfil verificado é muito maior. A marca dá credibilidade ao que é publicados por essas contas, mesmo quando elas têm poucos seguidores”, afirma Gabriel André, especialista em análise de redes sociais.
Entre os perfis reconhecidos como autênticos pela plataforma, há uma grande diversidade. O coronel Henrique, deputado estadual em Minas Gerais pelo PSL, foi agraciado com o “selo azul” mesmo tendo apenas 330 seguidores no Twitter. Os recordistas de popularidade nas redes são os generais Hamilton Mourão (2 milhões), Augusto Heleno (1,2 milhão) e Eduardo Villas Boas (881 mil).
O levantamento do Brasil de Fato mostra que a soma dos seguidores de perfis de militares com o “selo azul” chega a 5 milhões. O número não correspondente, contudo, a usuários únicos, já que uma mesma conta pode seguir mais de um oficial.
A pesquisa não considerou oficiais sem a verificação do Twitter e as contas institucionais das Forças Armadas. O número corresponde a mais de um terço dos 14,1 milhões de usuários brasileiros cadastrados na plataforma, segundo pesquisa da consultoria Statisa em 2020 e ainda inédito em português.
A reportagem apurou ainda que mais de um terço dos perfis de militares verificados pelo Twitter distribuiu notícias falsas, compartilhou mensagens que posteriormente foram deletadas pela plataforma ou fizeram apologia ao “tratamento precoce” contra a coronavírus. São eles: o tenente Mosart Aragão, o comandante da Força Aérea, Baptista Júnior, e os generais Miotto, Augusto Heleno, Peternelli e Girão Monteiro.
Em resposta ao Brasil de Fato, o Ministério da Defesa afirmou que “a Marinha, o Exército e a Aeronáutica possuem manuais e cartilhas que normatizam e orientam adequadamente a conduta e o uso de mídias sociais por parte dos militares das Forças Armadas”.
Segundo a pasta, “as recomendações ao efetivo versam quanto às boas práticas da liberdade de expressão e quanto ao posicionamento público nas redes, respeitando-se os preceitos regulamentares existentes”.