Futebol de cofres vazios: Sem dinheiro, clubes e jogadores brasileiros precisam se adequar à nova realidade

fredO futebol brasileiro exagerou na dose, bebeu demais na fonte do otimismo financeiro e agora sofre com a dura ressaca. Neste fim de 2014, os investimentos recuaram. O que restou depois da farra dos últimos anos — de contratações astronômicas e salários exorbitantes — foram as contas no vermelho e a certeza de que, se não houver uma adequação à nova realidade, as restrições de hoje serão ainda piores.

O primeiro motivo da crise é a falta de dinheiro na praça. Há uma carência de investidores no futebol do país, embalada pelo momento ruim da economia. Este ano, apenas seis empresas se dispuseram a serem as patrocinadoras principais de 15 clubes da Série A. Cinco não tiveram ninguém. A Caixa Econômica Federal bancou sozinha oito times — sem contar com o Vasco, na Série B. Se não fosse pela intervenção do banco estatal, o quadro seria ainda pior. A perspectiva para 2015 é ruim.

– O Brasil está vivendo um momento restritivo. Todas as empresas estão segurando investimentos. O futebol está inserido na realidade do país, e os clubes precisam estar atentos a isso – afirmou o presidente do Botafogo, Carlos Eduardo Pereira.

Como acontece com outros clubes, o Alvinegro ainda não sabe se terá parceiro máster ano que vem. Mas essa não é a única incerteza que paira sobre as quatro linhas. O poder público diminuiu a complacência com os clubes que têm dívidas milionárias. As penhoras viraram realidade e transformaram Brasília em parada obrigatória para quem teme o bloqueio. Na última semana, foi a vez de Daniel Nepomuceno, presidente do Atlético-MG, peregrinar pela capital atrás de uma chance para renegociar as pendências do Galo, um dos clubes mais endividados do país e, ainda assim, dono de um dos elencos mais caros.

Para frear a crise, restou aos clubes reduzirem seus tetos salariais e colocarem um basta na escalada que fez, por exemplo, Fred, do Fluminense, receber salários de quase R$ 1 milhão, vencimentos dignos do padrão europeu. A mudança tem impacto direto nos jogadores. Acostumados a pedir alto, estão sendo obrigados a entender que o momento é de aceitar menos.

– Estamos tendo que explicar aos jogadores a realidade. Eles terminam bem a temporada, querem aumento, mas eu preciso conscientizá-los de que o momento é ruim – afirmou o empresário Frederico Moraes.

Enquanto a dor de cabeça não passa, o futebol brasileiro, como todo mundo depois que bebe além da conta, promete não exagerar de novo.

Cruzeiro é exceção

A tempestade que agita o mar do futebol brasileiro, por enquanto, bate que nem marola nos cascos do Cruzeiro. O bicampeão brasileiro é uma exceção de estabilidade em meio à crise financeira que atrapalha os rivais.

O segredo é o controle da dívida, o que lhe deixa imune a penhoras e lhe permite usar praticamente tudo arrecadado para investir na equipe. Outros clubes arrecadam mais do que a Raposa, mas perdem muito do que entra para quitarem o passivo.

– O clube tem um histórico de pagamento em dia há 20 anos. Não trabalhamos com direito de imagem, nosso pagamento é 100% na folha. Tem estrutura. Isso tudo atrai – afirmou Alexandre Mattos, diretor de futebol do Cruzeiro.

Enquanto os clubes cariocas pisam em ovos nessa janela de transferências, o Cruzeiro tenta tirar Leandro Damião do Santos, negociação que promete movimentar as maiores cifras da janela de transferências atual.

Para o dirigente, chegou a hora de o futebol brasileiro se adaptar a dias mais difíceis:

– Quem não se adequar, vai sofrer consequências. Os clubes se empolgaram com a situação econômica do país, com a renegociação com a TV. Por isso os salários ficaram tão altos recentemente.

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Redação DiárioPB

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