Leornado Boff diz ter misericórdia de Ciro e dá aula de elegância
O teólogo e escritor Leornado Boff, um dos mais importantes intelectuais do mundo, celebrado pelo papa Francisco como interlocutor privilegiado, comentou a ofensa que recebeu do candidato derrotado Ciro Gomes – que o chamou de ‘bosta’ e ‘bajulador’. Boff afirmou ter misericórdia de Ciro. Disse também entender seus ‘excessos’. O teólogo diz que Ciro é imprescindível à democracia e que a ofensa proferida por ele não “o honra”. Ele lamentou mais uma vez que Ciro tenha viajado ao exterior no momento mais delicado da história recente do país.
Em entrevista ao portal Uol, Boff explica seu sentimento com relação ao “refugo” de Ciro após o primeiro turno: “causou-me espanto o fato de que, no meio da crise, quando a democracia estava sob risco, confrontando-se com uma proposta autoritária de viés fascista, extremamente danosa ao pais, ele tenha se retirado e assim privado a todos nós de um apoio importante devido à sua força política. O ressentimento falou mais alto e [ele] simplesmente se afastou. Na volta, não foi capaz de dizer ‘voto em Haddad’, apenas disse ‘voto pela democracia’.”
A reportagem destaca o que Boff pensa sobre a alcunha de ‘bajulador’ lhe concedida por Ciro Gomes: “Boff rejeita o rótulo de bajulador do petista e afirma que a amizade com Lula não o impediu de fazer críticas ao próprio ex-presidente e ao PT. ‘Um intelectual, ciente de sua missão, não pode deixar de criticar malfeitos, venham de onde vierem. Assim o fiz em todo o tempo’.”
Ele detalha a questão na resposta que dá ao portal: “não me incluo entre os eventuais bajuladores de Lula. Nunca fui filiado ao PT por convicção, pois o ofício do pensar filosófico e teológico não pode se restringir à parte, donde vem partido, mas deve procurar pensar o todo e a parte dentro do todo. Somos eu e Frei Betto (também não filiado ao PT) amigos de Lula de longa data, desde o tempo em que organizava as greves e a resistência à ditadura militar. Portanto, bem antes de ser político e presidente. Os amigos se criticam olhos nos olhos para construir, os adversários o fazem pelas costas para destruir. E assim o entendia Lula. Somos amigos-irmãos que têm os mesmos sonhos e os mesmos propósitos fundamentais. Frei Betto era igualmente duro na crítica, não obstante a grande amizade que os unia e une. Sigo a sentença dos mestres espirituais: ‘se não entender o que alguém diz a seu respeito tenha pelo menos misericórdia’, virtude central do cristianismo assumida, decididamente, pelo papa Francisco. Procuro viver esta virtude”.
Sobre a candidatura de Haddad, ele diz: “não me cabe dizer se errou ou não. O PT tinha esperança de que se fizesse justiça a Lula e que o Judiciário obedecesse à declaração da ONU de que Lula teria garantido o seu direito de ser candidato. Mas o arbítrio imperante não atendeu esta regra de tão alta instância. Vetou sua candidatura e quanto o saiba até lhe sequestrou o direito de votar. O que demonstra ser de fato um prisioneiro político vivendo numa solitária. O que, na verdade, elegeu Bolsonaro foi um mantra contra a corrupção e o antipetismo que suscitou na sociedade. Só que, ao meu ver, usou métodos corruptos, de milhões de fake news e difamaçãoes a ponto de inundarem a consciência de boa parte da população. Sou completamente a favor que se combata a corrupção. Mas que se comece pelos grandes corruptos que são as grandes empresas”.
Brasil 247