Está em curso uma campanha internacional contra o Papa Francisco
Agora minhas dúvidas se dissiparam: há mesmo uma campanha orquestrada para desmoralizar, desestabilizar e, se possível, derrubar o Papa Francisco. E ela parte de dentro da própria Igreja Católica, com ajuda de uma parte da mídia mainstream internacional e tem apoio fundamental de setores conservadores nos Estados Unidos e em outros países.
Nos últimos tempos vem se avolumando a série de denúncias sobre abusos sexuais de prelados da Igreja Católica, notadamente referentes a casos de pedofilia. Mais recentemente, avultaram-se casos nos Estados Unidos, no Chile, na Austrália e na Irlanda, país que o Papa acabou de visitar. São casos que ocorreram durante décadas. Mas cada vez mais jogam-se as denúncias no colo deste Papa, exigindo soluções imediatas para um problema crônico e persistente.
Olhando-se de perto as denúncias, a impressão que se tem é que este tipo de prática abusiva e horrível sempre existiu dentro da Igreja. Mas os casos parecem ter se avolumado – ou pelo menos as denúncias feitas agora apontam para este crescimento – durante o papado de João Paulo II que parece nada fez de significativo para coibi-los e condena-los de público, fixado em sua obsessão por desarticular os setores progressistas da Igreja e ajudar os presidentes norte-americanos e também o governo britânico a combater e destruir os regimes comunistas, coisa que acabou acontecendo. João Paulo II descurou inclusive dos escândalos envolvendo o Banco do Vaticano, cuja cúpula sobre a qual pesavam acusações graves só foi abalada e removida por Francisco.
A campanha atingiu um novo patamar com a divulgação de carta do arcebispo Carlo Maria Viganò, um conhecido militante das causas reacionárias e da homofobia dentro da Igreja, em que ele acusa o atual Papa de omissão e de acobertamento diante das denúncias de pedofilia. Viganò desempenhou funções diplomáticas do Vaticano junto aos Estados Unidos, de onde partem muitas das tentativas de desestabilizar Francisco. A carta foi divulgada em várias mídias conservadoras da Igreja, e foi estrategicamente publicada durante a visita do Papa à Irlanda, país em que se avolumaram recentemente as denúncias contra os abusos sexuais dentro da Igreja. Numa atitude inédita na história da Igreja, segundo historiadores especializados, Viganò pede a renúncia do Papa.
Francisco é uma figura incômoda para a “hegemonia a brutas” do ideário neoliberal no mundo inteiro. Digo “a brutas” porque este ideário não tem mais a hegemonia, no sentido canônico do termo, dado que suas políticas têm fracassado em todo mundo e levado países à bancarrota e seus povos ao desespero. Mas essas política seguem impávida e arrogantemente aplicadas, inclusive no nosso país. Olhe-se o cenário global: na Europa, os partidos à esquerda estão submersos diante da onda neoliberal e do crescimento da extrema-direita; a única exceção é o pequeno Portugal; Ásia e África estão na mesma situação; Austrália e Oceania idem; na América Latina também cresceu a onda de direita e de extrema-direita, com seu principal líder de esquerda preso injustamente na masmorra de Curitiba.
O México há ainda uma promessa. O Uruguai e a Bolívia são bravos, porém pequenos. Peru, Equador, Colômbia se renderam. Cuba e Venezuela estão isoladas. Rússia e China não são mais de esquerda, embora se oponham à hegemonia dos EUA. Aliás, dos Estados Unidos nem é bom falar. O que resta de frontalmente contrário a esta “hegemonia a brutas”, em escala mundial? O Papa Francisco. Portanto, urge derrubá-lo, pelo menos fragilizá-lo e desmoraliza-lo. E os conservadores dentro da Igreja seguem a “tática Aécio Neves”, tentando a todo custo reverter o resultado de sua eleição e inviabilizar o seu mandato.
Incomoda, neste cenário, o concurso de muitas pessoas que se dizem progressistas que, a partir das justas reivindicações feministas ou de combate à discriminação homofóbica e também de luta contra a pedofilia, acusam Francisco de omissão e inação. Que se reivindiquem tais bandeiras é uma coisa, e é louvável; que se exorte o Papa a mais ações contra tais práticas inadmissíveis, também é louvável (não se esquecendo das causas dos pobres e dos escândalos do Banco do Vaticano). Mas que se queira ajudar a enforcar o atual Papado, jogando água no moinho dos reacionários, é muito outra.
Assim como o Papa estendeu olhar e mão contra o isolamento de Lula, não devemos deixa-lo isolado, na medida de nossos esforços e capacidades.
Para finalizar, não é à toa que Francisco nunca come sozinho, que eu saiba, nem durma nos aposentos papais, mas na casa de hóspedes do Vaticano. A sombra de João Paulo I paira entre os desvãos secretos da Santa Sé.