PF prende ao menos 20 funcionários públicos envolvidos na ‘Carne Fraca’
A Polícia Federal lançou nesta sexta-feira uma operação em seis Estados e no Distrito Federal com o objetivo de desarticular uma organização criminosa liderada por fiscais agropecuários federais e cerca de 40 empresas, entre elas as gigantes JBS e BRF, acusadas de pagamento de propina para a liberação de mercadorias sem fiscalização.
Nas investigações, que duraram dois anos, também foi identificada a possibilidade de parte da propina gerada ter ido para partidos políticos. Segundo o delegado da PF Maurício Moscardi Grillo, uma fatia teria ido para o PP e o PMDB.
“Nós torcíamos para aparecer uma empresa correta (na operação). Mas não aconteceu”, afirmou Grillo a jornalistas.
De acordo com a PF, as investigações da chamada operação Carne Fraca, a maior já realizada pelos policiais federais, apontaram que os fiscais recebiam propina para emitir certificados sanitários sem qualquer fiscalização efetiva. Um dos exemplos de fraude era o uso de substâncias capazes de ocultar odores de carnes estragadas que foram comercializadas.
As superintendências regionais do Ministério da Agricultura nos Estados do Paraná, Minas Gerais e Goiás atuavam diretamente para proteger grupos empresariais, acrescentou a polícia.
“Dentre as ilegalidades praticadas no âmbito do setor público, denota-se a remoção de agentes públicos com desvio de finalidade para atender interesses dos grupos empresariais. Tal conduta permitia a continuidade delitiva de frigoríficos e empresas do ramo alimentício que operavam em total desrespeito à legislação vigente”, disse a PF em nota.
Segundo o delegado, foram presos nesta manhã dois executivos da BRF e um da JBS.
A operação contou com aproximadamente 1.100 policiais federais para o cumprimento de 309 mandados judiciais, sendo 27 de prisão preventiva, 11 de prisão temporária, 77 de condução coercitiva e 194 de busca e apreensão em endereços dos investigados e de empresas supostamente ligadas ao grupo criminoso.
Os mandados judiciais foram expedidas pela 14ª Vara da Justiça Federal de Curitiba e estão sendo cumpridos nos Estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Goiás, além do DF.
Em comunicado, a JBS informou que “repudia veementemente qualquer adoção de práticas relacionadas à adulteração de produtos, seja na produção e/ou comercialização” e que não houve ação da PF na sede da companhia em São Paulo.
A BRF afirmou que cumpre normas e regulamentos sobre produção e venda de seus produtos e garantiu em comunicado à imprensa que “não há nenhum risco” para seus consumidores, seja no Brasil, ou nos 150 países em que atua.
As ações da JBS despencavam cerca de 9 por cento na Bovespa, enquanto as da BRF perdiam quase 8 por cento às 14h43.
A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) afirmou que falhas da indústria de carnes investigadas pela PF na operação Carne Fraca, se comprovadas, seriam “exceções em um modelo produtivo que é referência para o mundo”.
O Ministério da Agricultura marcou entrevista coletiva às 16h desta sexta-feira para comentar o assunto, mas o titular da pasta, Blairo Maggi, usou sua conta no Facebook para prometer “tolerância zero” com irregularidades no ministério.
“O que as apurações da Polícia Federal indicam é um crime contra a população brasileira, que merece ser punido com todo o rigor”, disse Blairo em sua conta no Facebook.
O Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais Federais Agropecuários (Anffa Sindical) disse em nota que denunciou há vários anos irregularidades em empresas de carnes investigadas na operação Carne Fraca da PF.