20 anos de ‘Baile Perfumado’, o filme em que Lampião e o manguebeat se encontram
Quando o presidente Fernando Collor de Mello extinguiu a Embrafilme, em 1990, o cinema nacional quase deixou de existir junto com ela. O órgão estatal de produção e distribuição cinematográfica tinha sido criado nos anos 1970 para financiar filmes e colocá-los para exibição. Hoje, algumas das funções que eram desempenhadas pela Embrafilme cabem à Agência Nacional do Cinema, a Ancine.
Foram necessários cinco anos para que os mecanismos de financiamento se reestruturassem, pelo menos em parte, com a criação das Leis de Incentivo e novas instâncias governamentais de apoio ao cinema.
A produção nacional que se reerguia de 1995 em diante foi chamada de “cinema da retomada”. Um dos filmes mais importantes desse período é “Baile Perfumado” (1996), de Lírio Ferreira e Paulo Caldas, que completa 20 anos em 2016 e é homenageado pela sessão de encerramento do Festival de Cinema de Brasília deste ano, no dia 27 de setembro. O filme é também um marco fundador do cinema pernambucano contemporâneo.
Gênese
O mote central de “Baile” é o projeto do fotógrafo libanês Benjamin Abrahão (interpretado por Duda Mamberti) de fazer um filme com Lampião (Luiz Cláudio Vasconcelos) e seus cangaceiros.
O episódio aconteceu de fato em 1936, e deu origem ao único registro filmado do bando. Mas através de “Baile Perfumado”, ele ganha cor e som à medida em que a câmera ritmada pela trilha de Nação Zumbi passeia pelo cânion do rio São Francisco.
A produção nacional que se reerguia de 1995 em diante foi chamada de “cinema da retomada”. Um dos filmes mais importantes desse período é “Baile Perfumado” (1996), de Lírio Ferreira e Paulo Caldas, que completa 20 anos em 2016 e é homenageado pela sessão de encerramento do Festival de Cinema de Brasília deste ano, no dia 27 de setembro. O filme é também um marco fundador do cinema pernambucano contemporâneo.
Gênese
O mote central de “Baile” é o projeto do fotógrafo libanês Benjamin Abrahão (interpretado por Duda Mamberti) de fazer um filme com Lampião (Luiz Cláudio Vasconcelos) e seus cangaceiros.
O episódio aconteceu de fato em 1936, e deu origem ao único registro filmado do bando. Mas através de “Baile Perfumado”, ele ganha cor e som à medida em que a câmera ritmada pela trilha de Nação Zumbi passeia pelo cânion do rio São Francisco.
Entre o plano sequência (como é chamada a filmagem de um plano que registra a ação sem cortes) que abre o “Baile”, iniciado com Padre Ciço no leito de morte, e a última cena de “Aquarius” (2016), Pernambuco produziu uma das cinematografias mais reconhecíveis e profícuas do cinema brasileiro recente.
“Baile Perfumado” foi o primeiro longa produzido em Pernambuco em quase 20 anos de ausência de meios para fazer os filmes acontecerem. “Era uma época muito dura, fazer um curta-metragem demorava cinco anos”, diz o diretor Lírio Ferreira ao blog “Cine HQ”, do jornalista e crítico Ernesto Barros, do Jornal do Commercio.
Em 1994, Lírio codirigiu com Amin Stepple o curta “That’s a Lero Lero” sobre a passagem do cineasta Orson Welles pelo Recife nos anos 1940. Nele, já vinham ensaiadas algumas características do longa em que o realizador começaria a trabalhar no ano seguinte, como o metacinema – discutindo o cinema através dele próprio -, e a radicalidade dos cortes, que dão ritmo moderno à narrativa sertaneja.
Estética e influência – ‘o primeiro longa de todo mundo’
Alguns jovens cineastas que fizeram parte da equipe de “Baile”, como Hilton Lacerda, Marcelo Gomes e Cláudio Assis, lançaram seus próprios longas pouco depois. Cláudio e Marcelo foram diretores de produção em “Baile” e Hilton, autor do argumento e do roteiro ao lado de Paulo Caldas e Lírio Ferreira.
Em uma entrevista à Revista de Cinema, Lírio Ferreira disse que “Baile Perfumado” marcou sua geração e foi “o primeiro longa de todo mundo”.
Um dos méritos do filme é a busca por atualizar o imaginário do sertão que o cinema brasileiro já havia consagrado através de filmes como “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (1964), de Glauber Rocha e “A Morte Comanda o Cangaço” (1961), de Carlos Coimbra. O sertão do longa de Caldas e Ferreira não é árido e pedregoso como o desses filmes – apesar de consciente dessa herança, sua filiação corresponde muito mais aos anos 1990 do que aos 30. A direção musical foi de Paulo Rafael.
Nexxo