Praça de Guerra, ou a guerrilha de Catolé do Rocha no Aruanda 2015
Um curta-metragem levou a galera ao delírio ontem no Fest-Arunda. Trata-se de Praça de Guerra, de Edi Junior. O filme é produto dos cursos que o cineasta Torquato Joel ministra em várias cidades da Paraíba.
Praça de Guerra é a história de um grupo de garotos que, nos anos 1960, embalados pelo clima mundial revolucionário, pelas ideias de Che Guevara e Régis Debray, decidiram implantar um foco de guerrilha em Catolé do Rocha. Um deles é Luiz Gonzaga, o Gegê, irmão mais velho do cantor e compositor Chico César. Gegê depois iria para São Paulo, onde se tornaria líder dos sem-tetos.
O ardor revolucionário dos jovens era total, a Serra do Capim Açu estava ali mesmo para ser a nova Sierra Maestra paraibana e as armas eram improvisadas. Um deles fala do arsenal: “Construímos um mosquetão artesanal, que podia dar até 20 tiros!”. Imagine-se.
O grupo acabou preso e sofreu as agruras da prisão durante a ditadura militar. Mas o bom humor nunca é abandonado. Um deles diz que, quando foram transferidos para a penitenciária, descobriram que lá havia três pontos de venda de maconha. De guerrilheiros passaram a bichos-grilos. Desbundaram. E, depois de soltos, voltaram a assombrar Catolé do Rocha, agora tomando banhos nus no açude e deixando-se fotografar em trajes de Adão.
Foram presos novamente, e o filme se encerra com a leitura da sentença – hilária – do juiz local. Mas os aplausos eram tantos que foi impossível ouvir a leitura do processo por inteiro.
O filme faz, com muito bom humor e não sem certa dramaticidade, um diagnóstico preciso do voluntarismo da esquerda brasileira. Esse exército brancaleônico da Paraíba imaginava que com seus mosquetes de fabricação caseira poderia enfrentar o exército brasileiro. Por sorte escaparam.
Por isso, um deles diz, no final: “Dizem que fomos derrotados? Por quê? Estamos aqui para contar a nossa história e nos orgulhamos dela”.
Tem toda razão. Nem sempre os vitoriosos podem se orgulhar do que fizeram.
Estadão