PT condena declarações de Hugo Motta sobre 8 de janeiro e semipresidencialismo
Petistas veem ameaça à soberania popular e tentativa de reescrever história e alertam para risco de anistia a golpistas
As declarações do novo presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), minimizando a gravidade dos ataques aos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023 e defendendo a adoção do semipresidencialismo no Brasil, provocaram forte reação do PT e de setores da sociedade, informa o jornal O Globo. Em seu discurso de posse e em entrevistas concedidas na última semana, Motta argumentou que os atos não constituíram uma tentativa de golpe e sugeriu que o país volte a debater uma mudança no regime de governo.
A presidente do PT, a deputada Gleisi Hoffmann (PR), foi uma das primeiras a rebater publicamente as falas do novo presidente da Câmara. Em uma postagem nas redes sociais, Gleisi criticou a ideia do semipresidencialismo e apontou que essa é uma tentativa de enfraquecer a soberania popular. “Quem tem um ‘semipresidente’ não tem presidente nenhum. É muito medo da soberania do povo ou muita vontade de governar o país sem ter de ganhar no voto”, escreveu. Ela também lembrou que o Brasil rejeitou o parlamentarismo em dois plebiscitos, realizados em 1963 e 1993, e que a proposta visa esvaziar os poderes do chefe do Executivo.
Petistas veem tentativa de reescrever a história – No Congresso, as declarações de Motta sobre o 8 de janeiro foram recebidas com forte crítica. Para o deputado Carlos Zarattini (PT-SP), minimizar os ataques é um erro grave e pode abrir espaço para novos atentados contra a democracia. “Negar a tentativa de golpe é um absurdo depois de tantas provas obtidas na CPI do Congresso e nas investigações do STF. Enquanto ficarmos passando o pano em golpistas, vamos continuar vivendo sob ameaças”, afirmou.
O líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), também rebateu a fala de Motta e cobrou esclarecimentos. Ele destacou que a investigação revelou a existência de uma minuta golpista e planos para impedir a posse do presidente Lula (PT). “A declaração foi equivocada. A minuta do golpe foi confirmada por comandantes do Exército e da Aeronáutica. A operação Punhal Verde e Amarelo falava em tentativa de assassinato de Lula e Alckmin. Acho que ele não vai colocar para votar a questão da anistia”, disse.
Embora a base governista acredite que as falas não causarão uma crise imediata na relação com Motta, petistas já preparam uma vigilância mais atenta ao novo presidente da Câmara. “Ele foi eleito com os dois lados. Vai ficar sempre fazendo mediação. Está em um processo de construção coletiva. O importante é ele trabalhar pelos projetos do governo”, ponderou Jilmar Tatto (PT-SP).
Repercussão fora do Congresso – As críticas a Hugo Motta não se limitaram ao meio político. O escritor Marcelo Rubens Paiva, filho do ex-deputado Rubens Paiva, morto na ditadura militar, criticou duramente o novo presidente da Câmara. “Novo presidente da Câmara demonstra que Brasil continuará no atoleiro e nunca alcançará a democracia plena. O desequilíbrio no caso não é das penas, é dele mesmo”, escreveu Paiva em suas redes sociais.
Semipresidencialismo na pauta? – As falas de Motta sobre a possível adoção do semipresidencialismo também geraram resistência. Durante sua posse, ele defendeu que o tema volte a ser debatido, argumentando que a mudança pode aumentar a eficiência do governo e ampliar a participação popular. Em entrevista à imprensa da Paraíba, ele afirmou que uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) com essa alteração já reuniu 179 assinaturas.
Apesar disso, Motta garantiu que não há compromisso em acelerar o projeto. “Discutir o sistema político é sempre bom para buscar mais eficiência, mais participação popular e governos sempre em busca de mais resultados para a população. Mas não temos compromisso de pautar com urgência”, disse.
No entanto, para o PT, a inclusão do semipresidencialismo na agenda da Câmara indica um movimento para fragilizar o Executivo e retirar poder do presidente eleito pelo povo.
Com Brasil 247