Quase 70% da população ainda acredita que governo pode taxar o Pix, aponta Quaest
Pesquisa revela impacto de fake news e destaca desafios do governo Lula em combater a desinformação
Uma pesquisa conduzida pelo instituto Quaest, divulgada na última sexta-feira, evidenciou o impacto da desinformação sobre a suposta taxação do Pix, um tema amplamente difundido por opositores do governo Lula. A pesquisa, reportada pelo jornal O Globo, ouviu 1.200 brasileiros em todas as regiões do país, entre 15 e 17 de janeiro, e revelou que 67% da população acredita que a gestão federal possa começar a cobrar imposto sobre transferências e pagamentos digitais. O levantamento, realizado de forma presencial, tem margem de erro de três pontos percentuais.
Segundo os dados, apenas 17% dos entrevistados confiam que o governo não implementará a taxação, enquanto 16% não souberam opinar. Apesar da revogação de uma portaria da Receita Federal que motivou os rumores, 87% das pessoas declararam ter ouvido falar sobre a possibilidade de imposto, mas apenas 68% tomaram conhecimento do desmentido oficial.
A portaria revogada previa a transferência semestral de informações sobre movimentações acima de R$ 5 mil por mês realizadas por carteiras digitais e fintechs, equiparando essa exigência à de bancos tradicionais. A medida, que tinha o objetivo de ampliar a fiscalização tributária, foi alvo de críticas e associada a boatos de que o governo planejava tributar o Pix. Diante da pressão pública, a norma foi revogada, mas a decisão não foi suficiente para conter a onda de desinformação.
Redes sociais intensificam a crise de imagem
O monitoramento da Quaest apontou que, após a revogação da portaria, as menções negativas ao governo Lula nas redes sociais saltaram de 54% para 86% das interações sobre o tema. Um pico de 22 milhões de menções foi registrado no dia 15 de janeiro, impulsionado por um vídeo do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), que viralizou ao sugerir a possibilidade de taxação. O conteúdo alcançou 291 milhões de visualizações, superando recordes de engajamento em plataformas digitais.
Para Felipe Nunes, diretor da Quaest e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a crise gerada pela fake news reflete fragilidades na estratégia de comunicação do governo. “A revogação passou a impressão de que o governo estava errado e que a oposição estava certa. Foi uma demonstração de fraqueza que impacta a credibilidade da gestão”, analisou Nunes em uma publicação nas redes sociais.
Ainda segundo o cientista político, o governo precisa enfrentar o desafio de reconquistar a confiança da população, apresentando políticas claras e alinhadas às expectativas sociais. “A incapacidade de pautar o debate de maneira proativa expôs a gestão a uma pressão desnecessária e a reforçou a narrativa opositora”, completou.
Governo anuncia novas medidas
Para tentar conter os impactos da desinformação, o governo Lula planeja editar uma medida provisória (MP) que reforce o sigilo bancário nas transações via Pix, garanta a isonomia de custos entre transferências digitais e em dinheiro, e desminta qualquer possibilidade de tributação futura. A estratégia visa consolidar a segurança jurídica do sistema de pagamentos, amplamente utilizado pela população, e diminuir a desconfiança gerada pela fake news.
A pesquisa da Quaest reflete não apenas a vulnerabilidade do governo à disseminação de notícias falsas, mas também os desafios de navegar em um ambiente político polarizado, onde a comunicação eficiente e a transparência são cruciais para manter a credibilidade e conquistar a confiança dos brasileiros.
Com Brasil 247