Lideranças do candomblé acusam Anielle de descaso com religiões de matriz africana
Comunidades também pediram intervenção e até a eventual substituição da ministra
Terreiros de candomblé e organizações de defesa das religiões de matriz africana enviaram uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, manifestando insatisfação com a condução do Ministério da Igualdade Racial (MIR) pela ministra Anielle Franco.
No documento, revelado pela jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo, as comunidades afirmam que a ministra tem tratado com descaso as demandas dos povos de terreiro, o que compromete políticas públicas essenciais para a preservação e valorização dessas tradições. As organizações pedem intervenção no ministério, com a substituição de equipes e, em último caso, da própria ministra.
As religiões de matriz africana, como o candomblé e a umbanda, são de grande relevância para a formação cultural do Brasil. Trazidas pelos africanos escravizados, essas práticas religiosas não só resistiram à opressão histórica, mas também se enraizaram profundamente na cultura brasileira, influenciando a música, a dança, a culinária e até a linguagem. Além disso, esses cultos desempenham um papel crucial na preservação da identidade afro-brasileira, sendo um importante símbolo de resistência contra o racismo e a intolerância religiosa.
A carta assinada pelas comunidades religiosas afirma que a gestão de Anielle Franco tem “desarticulado a possibilidade de retomada” de políticas implementadas em governos anteriores, como os de Lula e Dilma Rousseff. Segundo os representantes das religiões de matriz africana, o descontentamento se agravou com recentes polêmicas envolvendo a ministra e a demissão de quadros importantes para as políticas destinadas a esses grupos. “O manifesto é uma forma de mostrar ao presidente que nós não estamos satisfeitos com a forma como estamos sendo tratados”, declarou o babalorixá Babá Pecê, líder de um dos terreiros mais antigos do país, a Casa de Oxumarê.
ntre as críticas, os signatários destacam a falta de diálogo com os terreiros e a demora na implementação de ações importantes, como a Política Nacional de Combate ao Racismo Religioso. A demissão recente de Yuri Silva, então secretário do Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Sinapir), também foi apontada como um sinal de descompromisso com as pautas das religiões de matriz africana. “Silva é um jovem negro de candomblé, amplamente conhecido pela sua atuação nas pautas da liberdade religiosa”, diz o documento.
O ministério, por sua vez, afirmou não ter recebido formalmente a carta e defendeu que as políticas estão em fase de construção, com base em diálogos regionais. Mesmo assim, os líderes religiosos reiteraram o pedido de uma reunião com Lula para debater mudanças urgentes no MIR.
As religiões de matriz africana têm enfrentado séculos de perseguição e marginalização no Brasil. Hoje, elas seguem sendo alvo de ataques e discriminação. A demanda das comunidades de terreiro é por um reconhecimento mais efetivo do governo, que se comprometeu em pautas de igualdade racial, mas, segundo os signatários, ainda falha em proteger e promover as religiões que são parte vital da herança afro-brasileira.
Com Brasil 247