90% dos postos em lista da ANP não deram desconto de R$ 0,46 no preço do diesel
Um levantamento do G1 em 83 postos de combustível de todas as regiões do país aponta que 75 deles (90%) não repassaram ao consumidor o desconto de R$ 0,46 no preço do diesel –que o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) havia prometido para esta segunda-feira (4).
Padilha falou em 1º de junho. Segundo ele, nesta segunda “deveremos ter já todos os postos do Brasil, em tese, com reabastecimento com preço novo e todos os postos praticando preços com a dedução dos R$ 0,46 no litro de óleo diesel”.
O desconto foi uma das medidas que o governo Michel Temer tomou para tentar colocar fim à greve de caminhoneiros, que bloqueou estradas e causou desabastecimento em quase todo o país.
O G1 levou em consideração postos de combustíveis que integram o levantamento semanal da Agência Nacional do Petróleo (ANP). Foram consultados os valores do diesel e do diesel S-10 (obrigatório para veículos fabricados a partir de 2012). A ANP consulta ao todo cerca de 5.900 postos.
Repórteres em todo o país foram até os postos nesta segunda para conferir os preços e compará-los aos praticados entre 14 e 21 de maio, este último o dia em que a greve começou. O levantamento diz respeito aos estados de Alagoas, Amapá, Ceará, Espírito Santo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Pernambuco, Piauí, Paraná, Rio de Janeiro, Rondônia, Roraima, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Sergipe, São Paulo e Tocantins.
Carlos Marun havia dito que os postos deveriam, já a partir desta segunda, de fixar uma placa com o preço do diesel cobrado em 21 de maio. Esta placa, na maior parte dos casos, não existe. A portaria que regulamentou a questão, entretanto, apenas obriga os postos a divulgar a redução, sem dizer de que forma.
Na maior parte dos casos, os postos de combustível que não repassaram integralmente o desconto informaram que os estoques são antigos e que a redução R$ 0,46 se dará quando uma nova remessa de diesel e de diesel S-10 –comprado com desconto das refinarias– chegar.
Nos estados:
Mato Grosso do Sul
O Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo e Lubrificantes de estado (Sinpetro-MS) afirma que a redução de R$ 0,46 no litro do diesel ainda vai demorar alguns dias para chegar às bombas em todos os postos. Segundo o gerente-executivo da entidade, Edson Lazarotto, alguns estabelecimentos de Campo Grande, principalmente nas rodovias, já estão vendendo o combustível com o desconto. Entretanto, a maioria ainda está praticando o preço velho porque tem diesel em estoque.
O G1 percorreu cinco estabelecimentos, dos cerca de 150 em operação na capital do estado, para conferir se a redução já estava sendo praticada. Em nenhum deles houve queda de preço. Pelo contrário, em todos, os valores praticados quatro dias antes do início da greve dos caminhoneiros eram mais baixos – segundo levantamento de preços da ANP de 16 de maio.
De acordo com o Sinpetro-MS, nos estabelecimentos que já estão aplicando o desconto a redução está chegando a R$ 0,41, pois a composição do diesel tem um percentual de 10% de biodiesel, em uma mistura que é feita nas refinarias, e o governo federal não negociou a redução do biodiesel.
Pará
Nos seis postos visitados em Belém, nenhum havia reduzido o preço do diesel. Em nota, o Sindicombustíveis afirmou que “o preço a ser vendido aos consumidores dependerá diretamente do preço praticado pelas distribuidoras para a venda”. “Os R$ 0,46 indicados significam redução na refinaria e não obrigatoriamente pelas distribuidoras ao realizar a venda para os postos”, afirma o sindicato. O Sindicombustíveis afirma ainda que cada litro de diesel vendido nos postos é composto por 90% de diesel mineral e 10% de biodiesel – que não teve redução no preço. “Pela simples adição do biodiesel, o desconto anunciado já se reduziria a R$0,41, caso fosse integralmente repassada até a ponta da cadeia”, afirma.
Pernambuco
O Sindicombustíveis-PE afirma que os postos têm repassado o desconto do diesel para as bombas à medida que recebem diesel com desconto das distribuidoras. O sindicato afirma ainda que o desconto repassado pelas distribuidoras tem sido variado e, portanto, nem sempre chega a atingir os R$ 0,46 anunciados pelo governo federal. Os postos têm guardado notas fiscais e documentos necessários para comprovar os descontos repassados pelas distribuidoras até agora, seguindo uma orientação da Petrobras, afirmou o Sindicombustíveis-PE.
Rio Grande do Sul
Dos cinco postos visitados pelo G1 em Porto Alegre, só um aplicou o desconto de R$ 0,46 no preço do litro do diesel S-10 – segundo o gerente, tirado do “próprio bolso”. Nos outros estabelecimentos visitados, a redução variou de R$ 0,45 a R$ 0,24. Alguns dos postos visitados ainda não havia combustível para venda, reflexo do desabastecimento durante a greve dos caminhoneiros.
Segundo João Carlos Dal’Aqua, presidente do Sulpetro, os postos têm relatado que receberam o diesel com redução de cerca de R$ 0,40 por litro, e alguns têm bancado o restante da redução no preço.
Tocantins
Em Palmas, o desconto também não chegou na maioria dos postos. Nos 14 postos visitados pelo G1, nenhum estava praticando o novo preço nas bombas. A redução máxima encontrada foi de R$ 0,41. Na maioria dos casos, as gerências dos postos afirmam que a compra do diesel que está nas bombas foi feita durante a greve e não pegou a redução prometida pelo governo. Em entrevista à TV Anhanguera, o presidente do sindicato dos postos, Wilber Silvano, afirmou que a redução no preço deve ocorrer a partir das próximas compras de produtos.
G1