2018: um ano para o cuidar
Toda vez que acaba um ano a gente fica refletindo: o que eu vou fazer no ano novo? Pois para 2018 eu já me decidi. Vou cuidar de cuidar! A princípio, cuidar de mim mesmo. Porque, se eu não ficar bem, como vou poder cuidar das outras coisas?…
Nos anos passados eu negligenciei muito a mim mesmo. Os psicólogos diriam que eu teria deixado de me amar. Tem até um livro que eu comecei a ler (e, evidentemente, jamais conclui a leitura) que fala bem disso: “Autossabotagem”. Eu comprei numa dessas viagens à Brasília. Com tempo de sobra antes do voo, entrei numa livraria e escolhi ele pelo preço. É geralmente o que faço quando quero comprar algo não necessariamente útil.
Bernardo Stamateas sugere que podemos reconhecer e mudar as atitudes que tomamos contra nós mesmos. Teria a ver com “maturidade emocional”, algo que, convenhamos, se você não alcançar aos 50 anos… esqueça! O autor diz que essa maturidade está ligada à capacidade que temos em identificar em nós mesmos (e/ou nos outros) tipos de comportamento que sabotam nossas possibilidades de evoluir feito gente.
Por exemplo, se você sempre reage de maneira infantilóide toda vez que recebe uma resposta negativa… Se cuide! Outro tipo: um passo pra frente e dois pra trás. Geralmente é típico de quem possui reações muito desproporcionais a estímulos que as provocam… É grave! Tem uma parte do livro queu adoro: “(…) Nós somos como vasilhas de barro, que precisamos ir moldando, refazendo, até encontrar aquele formato, que se identifica melhor conosco (…)”.
Mas, voltando ao EU, o cuidar é uma decisão pensada, que, inexoravelmente, me afasta do coletivo pro particular, em direção ao privado. Cuidar do ser, do humano, já que não se consegue mais cuidar da humanidade. De mim posso partir para o Outro. Mas não posso ir ao Outro sem passar por mim!
Entre Stirner e Bakunin
O cuidar precisa ser bem equacionado, entre a ideia stirneriana do “Único” e os preceitos coletivistas do anarquismo bakuninista. Para Max Stirner, o Estado seria um Sistema Moral, ou ainda, fundamentado no respeito às leis e na lealdade dos cidadãos. Ele desmistifica a contradição entre “Estado Sagrado” e “Indivíduo Ímpio”.
Ao preferir cuidar do indivíduo faço uma opção preferencial pelo anti-Estado. Nisso, a providência inicial será desistir de operar dentro do Estado, para passar a agir junto aos indivíduos. Porque o Estado capitalista já provou sua incapacidade de promover a vida, a saúde coletiva, a sustentabilidade ambiental.
Isso também tem a ver com sabotagem. Se você cuida mais de você, passa a sabotar o Estado. E de uma coisa tenho certeza convicção: prefiro sabotar o Sistema do que a mim mesmo! Por exemplo: o tempo que eu gastei nos últimos anos em reuniões, alimentando movimentos, campanhas, sindicatos, conselhos e tantos outras tentativas de fazer o Estado funcionar como eu gostaria… Poderia tá cuidando mais dos meus filhos, da minha mãe querida, da família, do meu pedaço de terra em Praia Bela, conhecendo a Europa… Sei lá. Mas decidi gastar na militância inócua!!
Em 2018 o mundo não estará melhor porque eu fui um ativista empedernido. A Amazônia não vai deixar de ser derrubada. As pessoas não vão parar de jogar plástico no ambiente, Trump não vai rever seus propósitos, os golpistas continuarão traiçoeiros e escrotos! Então… eu vou cuidar de outras coisas.
Catuípe, 30 anos depois
Pelo menos uma coisa boa eu sei que vai rolar no início desse ano: a festa de 30 anos do Movimento Catuípe. Os saudosistas telúricos do movimento estudantil, que tomou o DCE da UFPB nos idos de 1988, vão se reencontrar no Ateliê Multicultural de Elioenai Gomes, numa festa de arromba, com mais de 100 convidados, no dia 3 de fevereiro.
O que significou aquela experiência libertária com a Catuípe para mim? Primeiro uma descoberta intensa com outros valores culturais, outras perspectivas de mundo. Um momento que referenciou minha vida pro resto da vida. Foi ali que descobri que eu era um “ser político”. Conheci e me apaixonei irremediavelmente pelo ideário anarquista.
Foi quando comecei a me aprofundar em conceitos fortes como coletividade, cooperativismo, companheirismo, solidariedade, autogestão, gestão compartilhada, decisão coletivizada, política, ideologia. Houve um episódio crucial, quando fizemos uma festa do tipo bota-dentro, no DCE da mata, e eu tive um primeiro contato com a cultura Iorubá, através de João Balula, que coordenou a primeira “lavagem” de um espaço público.
A Catuípe também me reforçou a ideia de que o cuidar interpessoal, altruísta, colaborativo, típico dos humanos, é o que nos move, o que nos faz sobreviver e coabitar. Catuípe, evoé!!
Redação
por Dalmo Oliveira