100 anos de Encanto: Os Voos do Pavão Misterioso é lançado no Museu de Arte Popular da Paraíba, no sábado (30)
No sábado (30), a partir das 15h, será lançado no Museu de Arte Popular da Paraíba (MAPP) da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), em Campina Grande, o livro “Os Voos do Pavão Misterioso — 100 anos de Encanto”. O evento contará com a presença de vários poetas, notadamente aqueles que integram a Academia de Cordel do Vale do Paraíba (ACVPB), que estão na publicação. A entrada é franca.
Advinda do Selo Latus da Editora da Universidade Estadual da Paraíba (EDUEPB), a obra estreou em formato de e-book — isso no início do ano, e ainda pode ser baixada gratuitamente AQUI. O livro homenageia um dos maiores clássicos da Literatura de Cordel, o romance nordestino “Pavão Misterioso”, cuja autoria divide opiniões, posto que, conforme pesquisadores, por ele respondem dois bardos: José Camelo de Melo Rezende (1885-1964) – o que primeiro cantou a história – e João Melchíades Ferreira da Silva (1869-1933) – o que a teria escrito, posteriormente.
Pairando sob quaisquer controvérsias, “Os Voos do Pavão Misterioso — 100 anos de Encanto” concentra-se em fazer jus à beleza literária desta narrativa que atravessou o tempo, mesclando o real e o fantástico para capturar a imaginação dos leitores. A obra sai em uma edição primorosa, com capa ilustrada pelo artista Jô Oliveira, sendo organizada pelo poeta Josenildo Maria de Lima (Jota Lima Cordelista), também pró-reitor adjunto de Gestão de Pessoas da UEPB, e pela curadora da sala de Cordel do MAPP, professora Joseilda Diniz.
Presidente da ACVPB, Fábio Mozart destacou que a obra é especialmente marcante porque é a primeira vez que a Editora da UEPB publica um livro abrangendo trabalhos de uma academia literária. “Desse modo, a Instituição reconhece a relevância da nossa arte no contexto cultural da Paraíba. Para nós, cordelistas, a publicação fornece, além disso, um bom panorama referente à visão dos poetas da atualidade, acerca do fenômeno editorial que é o ‘Romance do Pavão Misterioso’, transmitindo ao público a riqueza do universo poético e a criatividade desses artistas, contribuindo para reduzir o preconceito que o gênero ainda sofre por ser uma expressão popular”, explicou ele, que fez também a apresentação do livro.
A poetisa e professora Palloma Brito, residente na cidade de Livramento (PB), é uma das cordelistas que figura na obra e detalhou de que maneira se deu sua colaboração. “No dia a dia, uso a poesia como suporte e auxílio nos processos de leitura e escrita. Eu participava de um grupo e vi o convite para recontar essa história, que é inspiradora tanto para quem lê, como para quem cria. Nossa coletânea é valiosa para a literatura brasileira e, através da vinculação à UEPB, a credibilidade e a visibilidade foram intensificadas. Digo isso porque depois tive a oportunidade de compor a edição do livro didático do Estado da Paraíba, incluindo o centenário do Pavão Misterioso, com a referência bibliográfica da Universidade, um feito bastante importante e que servirá de fonte segura para pesquisas”, explanou.
Além de Palloma, constam na publicação os poetas Alexandre Eduardo Araújo, Anne Karolynne Santos de Negreiros, Antonio Marcos Monteiro, Aparecida Cardoso, Arnaldo Mendes Leite, Bento Júnior, Claudete Gomes, Cristine Nobre, Dalmo Oliveira, Dalva Mendonça, Eduardo Nask, Fábio Mozart, Gilberto Baraúna, Gorrión da Rabeca, Juliana Soares, Márcio Bizerril, Merlanio Maia, Orlando Otávio, Thiago Alves e Vera Adelino.
Durante o lançamento, a apresentação cultural caberá ao docente, compositor e sanfoneiro campinense Mestre Josélio, que se autodenomina “um gonzaguiano convicto”. Ao longo de sua carreira, o artista gravou oito discos com músicas de sua autoria, muitas delas posteriormente utilizadas por nomes como Os Três do Nordeste, Genival Lacerda, Biliu de Campina, e Banda Mexe Ville, entre outros. Premiado em 1988 com a gravação de um Long Player (LP), no Primeiro Festival Nacional do Forró, realizado na Rainha da Borborema, Josélio está fora dos palcos das últimas 14 edições do Maior São João Mundo (2010 a 2024). Hoje, é aposentado como professor, sendo que em dezembro de 2022 teve seu nome eternizado no Livro dos Mestres das Artes Canhoto da Paraíba. Entre as participações já confirmadas no evento, figuram a de Górrion da Rabeca, Claudete Gomes, Palloma Brito, Gilberto Baraúna, Anne Karolynne, Orlando Otávio e Robson Jampa.
Mais sobre “Os Voos do Pavão Misterioso — 100 anos de Encanto”
“O e-book foi bastante divulgado na internet e o interesse das pessoas superou as expectativas. A publicação, de forma física, era muito importante para a gente. Colaborar para esse registro e ter o livro em mãos nos traz uma sensação de contentamento e de trabalho concretizado. Esperamos, sobretudo, que ele chegue às escolas, aos estudantes do ensino básico, da educação pública”, ressaltou Josenildo. Ele acrescentou que a obra também deve ser lançada no primeiro Festival Literário Internacional da Paraíba (FliParaíba), que acontece em João Pessoa, no final deste mês.
A celebração dos 100 anos do Pavão Misterioso, com esta coleção em homenagem àquela que é uma das histórias mais lidas e publicadas pela cadeia produtiva do cordel, significa um marco, de acordo com a professora Joseilda. “A obra perpassou o século, influenciando diversas áreas do conhecimento, especialmente as artes. Está na cantoria de repente, no artesanato, no cinema, no teatro, na moda, enfim, segue presente na imaginação do público. Da Paraíba para o mundo, o Pavão Misterioso continua a intrigar leitores, ouvintes de cordel e intelectuais e, no século XXI, novas leituras encantam e enaltecem este romance que é pautas nas principais feiras nacionais e internacionais”, disse.
Ela enfatizou, igualmente, que a UEPB, como detentora de um dos maiores acervos da literatura mundial, a Biblioteca de Obras Raras Átila Almeida (BORAA), não poderia deixar de celebrar em grande estilo tal símbolo da criatividade nordestina. “A EDUEPB está de parabéns pela sensibilidade em abrir um espaço de voz, no campo editorial, aos Mestres e Mestras das culturas populares, entregando um trabalho que contempla variadas poéticas deste Cordel, sem jamais perder o fio de sabedoria, cultura e tradição, que a todos enlaça”, assinalou.
Texto: Oziella Inocêncio