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Vive o Brasil uma crise?

Vive o Brasil uma criseDesde o último pleito eleitoral, se fala em cada esquina que o Brasil está em crise. Para se aferir se realmente o país está em crise, é preciso proceder a um sem número de análises com metodologia segura e não viciada. Primeiro porque crises políticas e econômicas nos países latino-americanos não são nenhuma novidade. Aliás, estes povos, a que chamamos hoje de países ou nações, foram formados sob o signo da crise. Originários de outros países eternamente em crises até hoje, cinco séculos depois. Falo dos dois países que formam a península ibérica; os quais nunca souberam o que é ser bem administrados, nem viver com dignidade e fartura.

Não me digam que queremos que o Brasil seja um país moralizado, tendo sido “a-fundado” por Portugal. Um país que é herdeiro da i-lógica político-administrativa de José I, um rei que só agia de forma vicária através do seu déspota, o Marquês de Pombal; Maria I de Portugal, que tinha por epíteto “a Rainha Louca” ou “a Viradeira”; e João VI, o rei Truão, que passava o dia preocupado em comer galinha assada que trazia nos bolsos de sua casaca, não pode ser um país organizado nem bem administrado, muito menos moralizado. Em Portugal sempre reinou o teatro do absurdo, e é isso que temos e teremos no Brasil: o cinismo, a irresponsabilidade e a gatunagem ao quadrado.

Mas em termos de crise, apenas no Brasil recente, vale perguntar se por acaso já esquecemos as crises do Governo Sarney, quando sequer havia carne para se comprar? A crise do Governo Collor, quando ele afanou o dinheiro da população que estava nos bancos? E da crise do Governo Itamar que herdou do anterior? E da crise do Governo FHC, que após o entusiasmo inicial passou a mover-se entre apagões e greves sem fim?

Mas tomemos o momento atual. Para se certificar de uma crise nacional, primeiro deve-se definir qual o âmbito e escopo da dita crise. É crise política, econômica, institucional, etc? A priori se descarta a institucional, o problema está alocado na interface político-econômica. A crise política está mais ou menos clara, ao fim veremos por quê: Um governo que se elegeu prometendo mundos e fundos e agiu de forma contrária: o que afinal no Brasil não é novidade; e um Congresso Nacional que de forma rapinante achaca, extorque e sangra o governo, nem lhe deixa agir. Mas há um grande problema quando a questão avança o terreno econômico. O motivo para essa complicação está na fragmentação da sociedade, do que chamamos nação. Primeiro fatiou-se a sociedade em cinco ou mais classes sociais, depois temos cinco regiões, e não podemos esquecer o irracional labirinto de cores e raças, além disso, ainda temos o problema de uns que querem ser aristocratas, outros burgueses, outros se acham agregados a um ou outro dos dois grupos anteriores, e, por último, resta a foule. Esta sabe que está ao rés-do-chão, mas orgulho não lhe falta. Já imaginou 5 classes x 5 regiões x um número infinito de coloração e tons de pele, tudo isso elevado à quarta potência. Alguém sabe a que número chegaríamos? Eu só sei que não seria um número racional.

Isso porque no que toca à identidade racial, o Brasil é uma barafunda. As identificações censitárias do IBGE é o algo surreal, a maior parte é fictícia, diz que é branca, e isso não há no Brasil, salvo em pequenos redutos do Sul, do Sudeste e do Espírito Santo. O resto é mulato e ponto final. No quotidiano as identificações vão do “claro” ao “pardo” passando pelo “chocolate”, “café com leite”, etc, mas branco é o que 90% querem ser. Os outros, quando estão de bom humor, lhe dizem: é “moreno” ou “moreninho”, passando pelo “roxinho”. Gosto muito do pardo, não da cor, mas do momento ou da situação, isto é, o crepúsculo. Momento em que “todos os gatos são pardos”. E no Brasil é assim: tudo é pardo, não identificável. O Brasil é uma potência parda, ou melhor, pardacenta.

A final de conta, quem é que identifica o autor e os beneficiários dos desfalques bilionários nas empresas e bancos estatais e nas arcas públicas? Quem pode identificar os donos das contas bancárias nos paraísos fiscais? Quem já foi a uma repartição pública para resolver um problema e conseguiu identificar a quem de fato competia resolver o tal problema? A resposta é não. Mesmo quando se consegue resolvê-lo, é sempre alguém que diz que vai “dar um jeito”, “quebrar um galho”… Mas aquilo não competia a ele!!! É gente que ganha o dinheiro público, dizendo que está fazendo favor, só no Brasil mesmo, esta imoralidade. É por isso que nunca chamei funcionário público de servidor: ele não serve a ninguém, além do seu próprio bolso. Então, veja a realidade do Brasil, é sempre esfumaçada, pardacenta, enfim, o Brasil é pardo.

A tal crise, que está assombrando a todos, e que pôs a famigerada e sempre falida classe média a choco, também não é muito fácil de identificar não… Um dos grandes problemas do brasileiro é que ele vive para gastar, todo o centavo que lhe cai à mão, ele vai imediatamente gastá-lo, quando não já está devendo. Por esse ângulo, o brasileiro está sempre em crise. Para quem está com a corda no pescoço, apertando, qualquer puxavante o estrangula. Nem o brasileiro mediano nem o pobre souberam economizar o que percebeu de ganho real nos últimos governos: lançaram tudo ao vento. Todos esses pagam o preço. Sim, porque para o rico não há crise. Este continua comendo caviar, bebendo whisky importado, voando de primeira classe, mantendo suas contas nos paraíso fiscais e as mãos nas arcas públicas… e rindo de quem trabalha e paga imposto.

Se não vejamos: em viagem recente à Fortaleza, conversando com um amigo que lá vive, disse-me ele que um amigo seu lhe contou que em show recente realizado naquela cidade pelo cantor Fábio Jr. Fora três dias antes compra uma mesa para assisti-lo, ao preço de R$ 600,00 e já não havia mais. E ele faz parte dessa nova classe que se intitula média. Uma professora contou-me que recentemente uma loja de artigo de luxo do Rio ou São Paulo pôs anúncio que iria chegar algumas bolsas femininas de luxo, e para evitar tumulto as pretendentes deveriam entrar numa fila virtual. Agora a melhor parte: a bolsa custava a bagatela de 10.000,00 dólares. Resultado: as bolsas foram vendidas de arrebato. E as que não conseguiram comprar ficaram reclamando. Vale a pena lembrar que esta importância dá quase 40.000,00 reais. Há famílias inteiras que vivem em barracos “razoáveis” ou cômodos de alvenaria que se pode comprar por 10.00,00 reais, dependendo do local. Então, uma madame anda por aí carregando, de lado, quase quatro barracos. Isso é o Brasil! Depois todos se perguntam por que tamanha violência nas ruas; há violência maior do que a injustiça e a desigualdade social?

A pergunta que não quer calar: onde está a crise ou a quem a crise atinge? O país está em crise ou uma parcela da população paga a fatura do desperdício da elite financeira perdulária e desumana; e da irresponsabilidade da elite administrativa: em suma, dos poderes que dizem gerir a sociedade. Esta gente, em nível municipal, estadual e maior em nível federal digladia-se pelo controle do poder e pela posse do dinheiro público, nada lhe importando se a população morre ou sobrevive. E isso põe a vida em crise.

Afirmo que o Brasil vive sim em constante crise, às vezes aguda, às vezes crônica, isto foi herdado da mater (de)genetrix pútrida. Mas a crise geradora de todas as outras é a crise ética. Falta e sempre faltou ao Brasil, porque nunca houve na sociedade que o colonizou, aquilo que o nosso matuto resume tão bem: vergonha na cara!

Redação DiárioPB

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