Não é nem nunca foi novidade o apoio da Globo ao Golpe militar de 64, como não é novidade também que ela e a elite, bem como a famigerada classe média, instituída e falida durante o próprio golpe, anseiam ardentemente por um novo golpe (ainda que civil). Essa gente não suporta mais ver pobres exigindo direitos, falando com voz ativa, gritando palavras de ordem (assim que necessário) e, in fine, mostrando que têm direitos, poder, pensam e são gente. Afinal de contas, foram e são os pobres que constroem esse país; e se alguém pode ouvir a verdade, quem iniciou tudo foi o negro, e estes, ainda hoje, dentre os pobres são os mais “lascados”.
Pois bem, os donos da Globo veem o Brasil como um grande engenho de cana ou uma grande fazenda de café dominados por ela, que qual um capataz, chicote em punho, toca a negrada (pobre: pardo ou pretenso branco é tratado quase como negro) ao eito para trabalhar, nada dizer, assim pagar seus luxos e perdularismos na Europa.
Se dermos uma rápida olhada como esses meios de comunicação reacionários trataram as duas últimas manifestações, fica claro, para qualquer pessoa que, não usando de má-fé, veja o noticiário com certa atenção. Nem precisa proceder acurada análise de discurso, para se dar conta da tendenciosidade, nos noticiários ditos informativos, que, na verdade, são enformativos, ou melhor, enformadores, isto é, metem o ouvinte e o leitor na forma mental e social que eles ciaram, para assim manterem seus privilégios, mantendo o povo burrificado. A Globo e a Folha de São Paulo são mestres nisso.
Por acaso, alguém se deu conta da apresentação e comentários das duas manifestações ocorridas no final de semana, a do dia 13 e a do dia 15/03? O tempo dedicado à cobertura já fala por si. À manifestação do dia 13, que exigia fim da corrupção, mas apoiava o governo, foram reservadas meras citações rápidas e sem ênfase, e os comentários iam sempre no sentido de que não houve aderência da população, portanto o governo está sem apoio e, consequentemente, sem base de sustentação.
Não foi assim, no que toca às manifestações do dia 15. Estas, agressivamente contra o governo, foi amplamente coberta, comentada e aclamada. E os comentários não eram neutros nem discretos, eram cinicamente partidários à estrema direita, covil em que se aninha a famosa elite, a falida classe média e os pobres alienados e iludidos pelos patrões e exploradores. Para esta manifestação a Globo apresentou vários flashes diários interrompendo sua programação. Dedicou longa reportagem no programa dominical noturno, e em todos os noticiários da segunda-feira. A maioria dos canais cometeu esse ataque à sociedade que pensa. Mas a Globo foi a mais incisiva. Ela, ao lado da dita elite, se acha no direito de tutelar o povo e, portanto, levar ao poder ou destituir do mesmo quem ela bem entender, desde que o mandatário conceda todos os desejos dela e nada conceda à população deserdada desde sempre. Alguém tem que dizer a essa gente que golpe civil é tão cruel, tão ilegal e tão ilegítimo quanto um golpe militar.
