GERAL

Por que essa ojeriza a alguns partidos políticos?

tarjaePauloAlves

Em se tratando de política, é bom que se frise, nesse texto não abordarei a questão da corrupção pelo simples fato de que é um dado de todos os partidos: uns mais, outros menos. E mesmo assim, se fosse abordado aqui essa questão, veríamos que daríamos naquilo a que queremos chegar, porquanto a corrupção é dado da política no Brasil e esse dado é agravado, pela impunidade e potenciado pelo cinismo dos corruptos e o niilismo da população que assiste a tudo e diz que “aqui é assim mesmo”. E não se engane. A maioria dos brasileiros apoia a corrupção, desde que seja perpetrada por ricos. Quem não lembra o famoso dito que corria o Nordeste sobre ACM, o famigerado Tonhinho Malvadeza: “rouba, mas faz”. Então, se era assim todos podiam sufragá-lo.

O que tenho observado é que há desde sempre uma grande má vontade para com o PT. E aqui não vou canonizar o sobredito partido, muito pelo contrário, vou proceder a uma crítica, no sentido do termo grego. O léxico “crítica” provém da palavra grega krimein que significa fragmentar o todo, analisar e decidir, o que é bom e não bom, após ter exercido a capacidade de bem julgar.

Para tentar entender essa ojeriza anti-petista faz-se necessário a arqueologia de alguns sentimentos e atitudes do brasileiro. Algo que todos sabemos e ninguém assume é que nós odiamos pobres, pelos simples fato de ser pobres. Aliás, o brasileiro é um grande hipócrita, se é que ele é grande em alguma coisa (insisto em acreditar que o é). Afirmo isso baseado no que tenho ouvido ao longo dos últimos doze anos: a grande crítica é ao bolsa família (essa esmola que o governo dá aos pobres, sob o rótulo de transferência de renda). Dizem que o governo está dando dinheiro a vagabundos, que esse dinheiro os homens e adolescentes usam para beber cachaça, usar drogas, também para comprar revólver e ir assaltar; e as mulheres para comprar “pintura”, isto é, maquiagem. Tudo generalizações grosseiras e preconceituosas. Ninguém pode ver pobre conseguir nada. Ninguém admite ver pobre sem estar rastejando e mendigando um prato de comida. Em suma, ninguém aceita sequer ver pobre vivo. Por isso, essa aversão a este partido que se não for melhor que os outros, pior não é. Então porque essa raiva grátis? Talvez o nome seja uma chave: Partido dos Trabalhadores. Agora me digam, quem gosta de trabalhadores? Pobres, sem influência, sem poder, sem glamour?

Claro que PT não é mais pobre, mas ainda carrega o estigma, um dia foi pobre, e ainda discursa seguindo a cartilha da ideologia socialista, ou seja, com chavões de pobres. O PSDB não, esse é elite mesmo, pelo menos pensa que é e veicula sua ideologia. Sim, porque, segundo o marxismo, partidos políticos não têm ideologia, ideologia é coisa de classe. Sendo assim, o partido veicula a ideologia da classe que representa, a quem está atrelado. FHC que se vangloriava de ser doutor e de já ter lecionado na Sorbonne (será que deu aulas mesmo lá?), não iria se unir a pobretões, sujos de graxa, fedendo a suor, boias-frias, que se espreme nos ônibus lotados…

Para citar apenas um exemplo dessa rejeição a tudo que lembra pobre e atração pelo seu oposto, citarei apenas um. Todos estamos fartos de ouvir a grita geral quando um menor preto ou favelado (o que se diz hoje de forma pomposa e hipócrita é morador de comunidade*) ou pobre comete uma infração, seja qual for, o clamor por justiça e para redução da maior idade ganha as ruas, e as grandes redes de TVs dedicam programas inteiros ao tema. Mas quando se assassina um desses jovens deserdados alguém diz alguma coisa? Se diz é para afirmar que morreu porque estava envolvido com drogas, era bandido enfim. Puxemos pela memória, em 1997, quando cinco “anjos de Brasília”, da classe média e alta, assassinaram, queimando vivo, o Índio Pataxó, Galdino, alguém ouviu esse clamor? Não! Por que? Ora… Porque os papéis estavam invertidos: os assassinos eram ricos e a vítima era pobre. E neste país tudo de bom para ricos, ao pobre resta apenas morrer como se mata bode no sertão: sem direito a berrar!

Por isso, durante essa campanha havia candidatos que estruturaram seu discurso no mote da redução da menor idade, mas não ouvi um só, que discursasse sobre criminalizar os crimes de trânsito, por um simples fato: esses crimes, em sua grande maioria, são cometidos por gente endinheirada, gente bonita, como se diz na gíria da gente descolada. Pode ser feio a meter medo; teve dinheiro é bonito. Um vizinho meu, por exemplo, teve o condomínio invadido e vários carros violados e roubados. De manhã, conversando comigo, disse que foi gente do PT. Percebe-se até aonde vai nosso preconceito? PSDB é elite, não rouba. Com certeza este meu vizinho não conhece o Brasil… nem o ser humano…

Mais um ponto a refletir. Alguém ouve essa revolta tão forte e intensa contra os playboys que se alcoolizam e deliberadamente vão assassinar pessoas pelas ruas com armas importadas, digo, mercedes, land rovers, camaros e outros brinquedinhos do gênero? Não. Por que “não existe pecado abaixo do equador (para ricos)”, como disse Gaspar Barléus. Então, não se pode prender ricos, no Brasil; diferente dos Estados Unidos que algemaram Dominique Strauss-Kahn, em 2011, ninguém menos que o presidente do FMI e aspirante ao governo francês, por causa da denúncia de uma camareira imigrante africana. No Brasil, ela é que seria presa por ter a petulância de falar mal de homem de tal estirpe. Depois, ninguém entende porque lá fora somos desrespeitados à mancheia. Nós é que primeiro desrespeitamos este país com a impunidade e vários outros vícios.

Então, caro leitor, quando nos indignarmos ou enternecermo-nos por um partido político indaguemo-nos logo, por quê?

 

* Mas eu digo favelado, sem nenhum preconceito. Pois o que precisamos é não tratar as pessoas que vivem nesses bairros esquecidos pelo poder público com desdém ou pré-conceito, é respeitá-los, tratando-os como pessoas dignas. Não é trocando nomes que mudamos uma realidade.

* Mas eu digo favelado, sem nenhum preconceito. Pois o que precisamos é não tratar as pessoas que vivem nesses bairros esquecidos pelo poder público com desdém ou pré-conceito, é respeitá-los, tratando-os como pessoas dignas. Não é trocando nomes que mudamos uma realidade.

Redação DiárioPB

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