GERAL

O último reduto da ética e da honestidade

Rodrigo Maldonado
Detido em flagrante, Rodrigo Maldonado nega que ficaria com os dólares achado em aeroporto. Foto: Internet

Um amigo do Recife disse-me, pelos idos de 2011, que o Brasil estava bom. Isso porque, segundo ele, a corrupção já se havia quase acabado, restava apena entre os pobres. Nem preciso dizer que esse meu amigo faz parte da dita “fina flor” recifense, que, como toda classe média e alta brasileira comete as piores sujeiras sociais e políticas, mas dizem sempre serem de uma honestidade e integridade ética à toda prova. É assim que se expressam todos os corruptos brasileiros para afetarem-se honestos, lançando sua miserabilidade sobre os pobres, vítimas deles em tudo.

Vale dizer que eu me manifestei, demonstrando-lhe aquilo em que eu acredito porque o vejo a cada instante na sociedade. É claro que nós fazemos parte de uma sociedade miseravelmente corrupta. Mas os maus exemplos sempre vem de cima, sendo assim, a culpa dessa nossa moral rasteira e comportamento infame é dos que se dizem guias da sociedade: governantes, administradores e autoridades: políticos dos mais variados níveis, industriais, comerciantes, profissionais liberais e magistrados, ou seja, os três poderes, o braço armado do Estado e a dita elite.

Mas os de cabeça retrógada e malsã insistem em dizer que os poderosos só são corruptos porque saem do povo, mas na verdade o movimento é inverso: o povo torna-se corrupto porque recebe o contraexemplos dos poderosos; porque entre corruptos tem se que sobreviver como puder; porque os poderosos roubam tudo e não deixam outra opção ao povo. A sociedade funciona como uma família. Se o pai e/ou a mãe dão péssimos exemplos, a maioria dos filhos vai seguir pela mesma trilha, e nela estando, a culpa só tem de recair sobre os responsáveis, porque no caso da sociedade são todos os governantes, administradores, e todos que tiverem cargos ou poder de decisão ou influência.

Na verdade se nós quisermos encontrar pessoas honestas procuremos entre os pobres, porque entre os ricos e remediados não se encontra. E para demonstrar ou comprovar isso não recorramos às teorias, essas funcionam apenas para ilustrarem a realidade ou com finalidade ad hoc, sigamos o método de L. Wittegenstein: “Não pense, olhe!”.

Há mais de um mês, precisamente em 20/12 do ano passado, ocorreu um fato muito ilustrativo dessa realidade brasileira, mas com desfecho atípico ao Brasil. O Ex-secretário de comunicação da cidade de Sorocaba (SP), Rodrigo Antonio Maldonado, foi preso em flagrante delito em pleno aeroporto de Viracopos, enquanto aguardava, com sua mui digna família, um voo para Orlando Flórida, suspeito de furto. Motivo: encontrou um envelope recheado com mil dólares, mais Green Card, ou seja, um cartão de visto permanente nos EUA. Abordado pela polícia já na sala de embarque, O muito honesto ex-secretário alegou que devolveria os dólares, mais tarde, versão contestada pela polícia do aeroporto. Seu advogado alega ausência de crime, pois ele tinha prazo para devolver o achado.

No entanto os fatos apontam para outra direção: o circuito de câmeras internas ao recinto mostra-o achando o envelope, depois indo ao balcão da companhia aérea e devolvendo apenas o documento, em seguida foi ao banheiro jogou o envelope no lixo, guardando consigo o dinheiro. Depois uma família foi reclamar de todo o conteúdo do envelope perdido, a partir de que a polícia descobriu o golpe do gatuno e foi abordar o ex-secretário. E levá-lo preso, liberado em seguida mediante pagamento de fiança no valor de um mil e quinhentos reais. Ah! Vale ressaltar que sua mãe, Neusa Maldonado é pastora evangélica e foi vereadora pelo PSDB. Imagino ela dizendo, caso o filho não tivesse sido pilhado, que aquele dinheiro teria sido Deus quem havia lhe dado, é para isso que essa gente usa do nome de Deus. Como diria o francês: c’est suffit.

Apesar de seu advogado, Carlos Eduardo Gomes Belmello, dizer que seu cliente “não cometeu qualquer ilícito, pois sua intenção era entregar o dinheiro encontrado e, pela lei, tinha até 15 dias para isso. Só não o fez antes exatamente por ter sido interpelado primeiro pelos policiais, aos quais entregou o valor encontrado.” E que espera que o Ministério Público decida pelo arquivamento do inquérito. Pois, segundo ele, isso é uma calúnia que o está prejudicando a seu cliente e sua família, e acrescentou: “Ele está há mais de 20 anos na vida pública, sem ter havido qualquer fato que pudesse manchar sua reputação”. Mas algumas perguntas se impõem. Se ele queria devolver o dinheiro, como afirmou, porque não o fez ao devolver o cartão? Se queria devolver depois porque jogou o envelope fora e pôs o valor no bolso? E se havia 15 dias de prazo como disse o advogado, daria tempo ele voltar dos EUA e fazê-lo? Na verdade o advogado está inventando “histórias de joão sem braço” para livrar das grades seu gatuno esperto de classe média-alta. E se ele, em 20 anos de vida pública, nunca tenha tido problemas que manchassem sua reputação, é simplesmente porque ninguém o investigou o suficiente; pois no Brasil só se vigia pobre.

Que vergonha, um cara endinheirado, que já ocupou cargos públicos de confiança encontra um dinheiro sabendo quem era o dono, pois havia um documento junto, e não o devolve. Quando o nosso país é pródigo em pessoas paupérrimas, exploradas: garis, diaristas, trabalhadores assalariados, catadores de material reciclável, etc. por vezes, encontram muito dinheiro e devolvem centavos a centavos, estes, sim, são verdadeiros seres humanos, que engrandecem a raça e fazem com que se tenha orgulho de se ter nascido gente. Não um borra-botas, que cheio de dinheiro conseguido sabe Deus como, acha um pouco de dólares e os engazopa, e quando é descoberto vem com desculpas esfarrapadas, mentiras deslavadas, diante dos filhos; coisa que faz vergonha até a quem não o conhece. Qual é a lição que ele está dando aos filhos: ser bandido, explorador, tirar vantagem pouco importando como.

Sempre os pobres dão banho em matéria de decência, educação e hombridade nesse gente, que se diz importante. Por exemplo, outra situação em que se observa a decência dos pobres e a indignidade dos ricos é quando um filho comente erros, crimes. Os pobres dizem geralmente que se o filho errou tem de pagar, é que os pobres (os que não foram ainda contaminados com a podridão nacional) querem os filhos sendo homens dignos; já os ricos ao verem os filhos na bandidagem, dizem que eles nada cometeram: escondem-nos, dão-lhes fuga e dizem que os filhos não podem serem presos, porque foram bem criados. Como se vê, neste triste exemplo do ex-secretário e de outros tantos, seus filhos são bem criados para se tornarem bandidos, como uma relevante diferença: protegidos pela oficialidade do Estado.

Fica o alerta para que cada um se pergunte que mundo se quer, então dependendo da resposta, comece a construi-lo desde já, incluindo a orientação dos filhos.

Por Paulo Alves

 

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