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… E eles são mais estúpidos que os latinos – (AMERICANOS)

trump ganha nos estados unidosEm 1936, o escritor francês Georges Bernanos, escreveu o que eu chamo de obra-prima, e que se tornou um clássico da literatura do século XX em França. Tal romance, que se chama Journal d’un curé de Campagne, recebeu o Grand prix du roman de l’Académie Française e, em 1950, foi incluído na lista do Grand prix des Meilleurs romans du demi-siècle. Em 1951, foi adaptado para o cinema e traduzido no Brasil pela Agir Editora sob o título: Diário de um pároco de aldeia.

Este romance é fantástico não apenas por ser uma obra maior, mas porque traz uma reflexão em palimpsesto que, imagino, ninguém, à publicação do livro, se deu conta. Como o autor era um católico fervoroso de visão um tanto tradicionalista, estruturou a obra em uma atmosfera eclesial. O narrador-protagonista narra sua própria história, é um jovem padre de uma aldeia perdida no interior da França, não obstante sua juventude, é doente, solitário e observa o mundo por lentes um tanto tristes e desesperançadas. Pensa consigo ele em solilóquio, ao retornar à sua paróquia, voltando da visita a um seu confrade mais velho, observando sua pequenina aldeia ao longe: Minha paróquia é devorada pelo tédio, eis a palavra. Como tantas outras paróquias! O tédio as devora sob nossas vistas e nada podemos fazer. Um dia, talvez, o contágio tomará conta de nós, descobriremos em nós esse câncer. Pode-se viver muito tempo com isso. E continua: A ideia me veio, ontem, na estrada. Caia uma dessas chuvas finas que nos penetram os pulmões inteiros e descem até o ventre. Do lado de Saint-Waast, a aldeia surgiu-me bruscamente, tão confusa, tão miserável sob o horrível céu de novembro! Vapores d’água subiam, como fumo, de todas as partes e ela parecia ter-se deitado, ali, na relva úmida, como um pobre animal cansado. Que coisa pequena, uma aldeia! E essa aldeia era minha paróquia. Era minha paróquia e eu nada podia fazer por ela; via-a tristemente mergulhar na noite, desaparecer… Mais alguns momentos, e já não enxergava mais minha paróquia. Nunca havia sentido tão cruelmente sua solidão e a minha. Pensava no gado que ouvia mugir em meio à cerração e que o vaquierinho, de volta da escola, maleta debaixo do braço, ia conduzindo, através do pasto unido, para o estábulo quente, cheiroso… E ela, a pequena aldeia, parecia aguardar também – sem grande esperança – depois de tantas noites passadas na lama, um mestre a seguir uma qualquer improvável direção, um qualquer inimaginável asilo.

Apesar da citação longa, caro leitor, vale a pena, se você vencer a resistência de ler um pouco mais, mesmo em tempos de Whatsapp. Vejamos: nós que trabalhamos com teoria e crítica literárias somos guiados a ver no texto gráfico, isto é, escrito, mensagens subjacentes, a partir da inferência do contexto em que fora produzido.

Este texto de Bernanos, produzido em 1936, já traz o desânimo futuro, pressentido pelo autor, que ganhará o mundo, a partir de 1939 com a Segunda Guerra Mundial. Ele, que era um grande observador, percebeu, bem antes, que havia algo estragado na política da Itália, da Alemanha, da França, da Bélgica e de toda a Europa: as potências querendo sobrepor-se umas às outras, armando-se até os dentes, na ganância de manter as colônias invadidas, na África ou alhures; as concordatas e os tratados assinados entre o Núncio Apostólico e o Primeiro Ministro alemão de então, que ataram as mãos dos católicos alemães, impedindo-os de reações futuras, contra a política que se implementou nos anos de guerra. Quando ele fala de “tédio que corrói”, “pobre animal cansado”, “um vaqueirinho que tangia o gado”, “o gado que mugia sob à cerração”, a “aldeia confusa, miserável, sob um céu horrível de novembro”, a “aldeia sem esperança depois de noites na lama”, o seguir “em direção improvável” para “asilo inimaginável”, etc. Tudo isso apontava para o precipício em que o mundo se encontrava à beira, a partir da loucura europeia.

Passados 80 anos, o mundo encontra-se de novo, periclitante, à beira do abismo. Fragilizado por tanta sandice praticada por aqueles que se diz criado por Deus, à sua imagem e semelhança, mas, vez por outra, põe em risco iminente não só a humanidade, mas o planeta inteiro.

Ontem, 09/11/2016, o mundo acordou atônito com a eleição, honesta ou não, de um louco no comando da nação mais poderosa da terra, e que se arvora a xerife do mundo. Na Bíblia, Lucas escreve que se um cego guiará outro cego ambos cairão no mesmo buraco. E eu pergunto: o que será de um enfermo (o mundo) conduzido por um louco? (o Famigerado Trump). O mundo inteiro que tem algum senso de justiça, desejo de igualdade, respeito pelo ser humano e pela natureza, está muito temeroso.

Além de os EUA serem ou quererem ser o xerife do mundo, o que mais preocupa é o que se espalha por todo o mundo esbranquiçando-o, feito asas do mal. Percebe-se claramente que o mundo inteiro está tendendo a direita. Esse alinhamento-concepção político que só o mal fez à humanidade: produzindo a dor, a miséria, o sofrimento total através da corrupção, da exploração, do sacrifício de tantas vidas consumidas como se fossem combustível para o funcionamento da máquina de morte que tritura vidas, sonho e esforços de dignidade, para produzir dinheiro, riqueza e luxo, em beneficio de uma pequena, mas danosa casta. Vidas, sonhos e esforços: tudo isso é lançado ao ralo para que o capitalismo siga incólume enriquecendo alguns e aniquilando o resto.

A Europa continua ferrenha, invadindo países e continentes inteiros de uma forma diferente às invasões do séculos XV e XVI, até o XIX, mas só que agora com uma outra técnica. A de empurrar suas produções industriais, muitas vezes supérfluas e sempre superfaturada, em troca quer solapar todas as matérias-primas que há na américa do Sul, a preço de liquidação, sem contar nos trilhões de dólares roubados por políticos e empreiteiros dos países da América Latina, África e Oriente Médio que são depositados em bancos da Europa Ocidental e Estados Unidos; na verdade são entregues nas mãos de seus magnatas para o fausto daquelas nações, às custas da miséria dos trabalhadores local. E também implantar, nesses países considerados periféricos e voluntariamente mal administrados, suas indústrias pesadas, poluidoras em busca de, entre outras coisas, mão-de-obra barata. No Brasil, esta tendência até 2002 era a tônica, há cinco séculos; e para retomar o comando, essa direita criminosa empreendeu um golpe de estado que destituiu a presidenta eleita pela população e lá colocou um fantoche usurpador, moleque de recado dos desumanos que sempre exploraram os trabalhadores. E para coroar esta retomada do poder pela elite malsã e maldita. O bizarro senhor Trump, numa eleição indireta, guardando algumas semelhanças com o golpe levado a termo no Brasil, solapou o governo das mãos daqueles que pensam, ao menos um pouco, no povo.

Disse eleição indireta, porque apesar de os EUA se vangloriarem de serem a maior democracia do planeta, ali, o voto popular vale tanto quanto lixo, basta ver os casos mais recentes: a eleição de Bush filho em 2000, em que ele perdeu na voto popular, mas o colegiado dos delegados presentearam-no com a vitória; e agora, em que Hillary Clinton já está à frente com mais de um milhão de votos, mas os delegados, senhores graves, aninharam o país nas mãos do direitista. E o mais grave: em ambos os casos é que os candidatos derrotados pelo colegiado, mas eleito pelo povo eram democratas. Isso é mais um elemento para se analisar de forma ampla o sistema político estadunidense: talhado para a elite reacionária.

Esta é a proposta que deslumbrou grande parte dos estadunidenses, especialmente os da elite mandona e os retrógrados: é a do enriquecimento a qualquer preço e custo. Pouco importa o método, os milhões de vidas jogadas nas valas, sim porque nós brasileiros, como cultura de iletrados e desinformados, imaginamos que os EUA é um paraíso, que não há pobreza, ora, lá há uma formidável faixa de pobreza. Em tempo, uma informação: onde não há pobreza e há um grande nível de igualdade (coisa que causa urticária no brasileiro) é na península Escandinávia. Lá, sim, a distância entre ricos e pobres é bem pequena.

Agora, depois de eleito indiretamente, ele tratou de vestir uma boa pele de cordeiro. Na verdade é um racista, classista, anti-humanista. Por isso ele vai, no primeiro ato, tentar destruir tudo que o estadunidense mediano conseguiu nos governos democratas anteriores, especialmente no de Barak Obama. Pelo seus discursos sociopatas, os alvos mais visados eram o Obama Care, e os imigrantes ilegais. Porém, vale lembrar que sem os imigrantes, contando os ilegais, o império do Norte desmorona: quem vai limpar banheiro, limpar a rua, meter a mão na fedentina? E fazer otras cositas más que o branco, protestante, rico, arrogante não se digna a fazer… mas quem viver verá. Mesmo com a pele de cordeiro, o lobo tem patas de elefante e como o colocaram em loja de cristais, não tardará o desastre. E aí os neo-saxões ditos cultos, letrados, inteligentes e politizados, como eles se acham, verão que mais uma vez fizeram aquilo que criança costuma fazer na fralda, e dessa vez com mais intensidade.

Digo isso, porque eles se acham os melhores do mundo. E na verdade eles são iguais ao que todos ser humano é, são feitos do mesmo barro, com a diferença de que são menos humanos e mais arrogantes. Veja, um bom exemplo do que eles são capazes é o que o nadadorzinho deles fizeram no Rio de Janeiro (o senhor Ryan Lochte): irresponsabilidade, bagunça, vandalismo, retaliação, mentira, falso testemunho, etc. Belo exemplo para quem quer ser o farol do mundo, não?

Uma lembrança da pretensão arrogante dos estadunidenses chega-me à mente. Em 1994, num telejornal ao apresentar o então presidente Itamar Franco com a criatura Lilia Ramos esta com a genitália exposta, a apresentadora disse “isso é latino”. Agora digo eu de cathedra, porque posso, “isso é neo-saxão”: esta radicalidade contraditória, esse arvorar-se em excesso de formação, de competência, de conscientização, de capacidade de escolher o melhor, mas não passam de retrógrados que escolhem para governá-los um troglodita, despreparado. Pergunto: quede a inteligência aprimorada? quede a consciência política? quede a humanidade? E, enfim, quede a democracia? Até onde eu saiba democracia significa governo do povo, mas como sabemos no mundo imperou e sempre e impera ou a ditadura ou a demon+cracia (o governo do demo) como temos agora no Brasil, e vai chegar nos EUA, Marine Le Pen está tentando imprimir a demon+cracia na França, na Bélgica é a vez de Tom van Grieken insuflar a extrema direita. No Brasil já não é novidade pois a direita burra, cruel e escravocrata voltou ao poder após quinze anos de eminência parda, isso porque ela nunca se afastou do poder, apenas perdera a supremacia. Mas ela agora, após usurpar o cargo, voltou para reimplantar o regime escravocrata. Afinal, se os estadunidenses fossem tão dignos e democráticos esta campanha não teria sido tão suja. Mais suja, em temos de agressão verbal, ofensas e grosserias, do que a campanha eleitoral brasileira de 2014, que, diga-se de passagem, cheirava a banheiro público. E por último, se lá imperasse a democracia, o voto popular seria respeitado tout court.

Por essas e outras, vejo que os estadunidenses são como uma pessoa qualquer, com o agravamento supracitado. Se latinos ou saxões, não importa, o ser humano é a mesma peste em todo lugar: corruto, arrogante e cruel, e como corolário, egoísta. Pois a cultura estadunidense é a cultura europeia transplantada, e da Europa, como sabemos, nada sai de bom; só invasões, pilhagens, crimes e crueldades.

Redação DiárioPB

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